10/08/2015

Os budistas não têm que ser vegetarianos

No outro dia estava a ler um livro introdutório ao budismo, e parei quando li que os budistas são vegetarianos, é assim que são ensinados, e é assim que deve ser. Fundamentalismos a mim cheiram-me sempre muito mal e neste caso, nem é verdade que os budistas tenham que ser vegetarianos. É raro não acabar de ler um livro, mas este não li mais.

Modo geral, os budistas não têm que ser vegetarianos. O Buda não era vegetariano e o Dalai Lama não é vegetariano. Parece estranho, pois uma das ideias pré-concebidas que costumamos ter acerca dos budistas é precisamente esta, mas não é necessariamente assim. 

O que se passava há 2 mil e 500 anos atrás, na altura do Buda, é que ele e os seus discípulos não tinham morada fixa, vagueando pelas terras a ensinar e a partilhar. O que comiam era oferecido pelas pessoas locais, e se lhes ofereciam carne, eles comiam carne. O Buda criou algumas regras em relação ao consumo de carne; por exemplo, eles não podiam matar os animais para o seu próprio consumo, não podiam aceitar carne de um animal que tenha sido morto de propósito para si próprios, nem podiam comer carne de certas espécies de animais. Mas se lhes dessem carne de animais que não tivesse sido mortos de propósito para essa oferenda (por exemplo, os restos de um jantar), aí eles tinham que aceitar e comer. 

Hoje em dia há escolas budistas que são absolutamente vegetarianas, enquanto outras não. Muitas vêem o vegetarianismo como uma opção pessoal. Os budistas não vegetarianos podem comprar carne, mas não podem, por exemplo, fazer uma encomenda de carne que vai implicar a morte de um animal de propósito para a sua encomenda. Estas "regras" devem-se a um sentimento de amor e compaixão pelos animais - e por todos os seres vivos. Como todos os seres vivos são importantes, e não apenas os animais, também se argumenta que ao comer plantas, estamos a matá-las; aliás, matamos muitos microorganismos e bichinhos que vivem nas e das plantas que comemos. 

Um dos ensinamentos fundamentais do budismo é o caminho do meio. Como é que isto se aplica na vida real em relação ao consumo de carne? Li algures um exemplo que adorei, que era mais ou menos assim:

Imagina que és budista, vegetariano, e vais visitar a tua avó, que não vês há muito tempo. Ela já é velhota, raramente cozinha, mas como ficou tão contente por ires lá a casa, preparou-te o teu prato favorito de quando eras criança (um arroz de pato, umas costeletas de borrego, um arroz de coelho...). O que é que fazes? 

Se hesitares em comer o prato (ou, pior, não o comeres mesmo), não és budista de certeza. Um budista nunca causaria esse desgosto à avó, hesitando ou não comendo o prato que ela preparou com tanto amor e carinho. Um verdadeiro budista não hesitaria um segundo sequer. Comeria a carne e sentir-se-ia feliz por dar essa alegria à avó.

Portanto, não há lugar para o fundamentalismo no budismo. As histórias de como os animais são tratados, os matadouros, a crueldade, isso são outras histórias, outros problemas que não existiam no tempo do Buda. 

Aqui é uma questão de amor e compaixão. A avó não matou o animal de propósito para fazer o tal prato. A avó foi ao supermercado comprar a carne, que já estava morta, quer ela a comprasse ou não. Se a carne não fosse comprada por ninguém, acabaria no lixo, o que não é um fim digno para um animal que foi sacrificado; ao comê-lo, esse animal serviu para nos dar energia e nutrientes. Os vegetais que foram comprados para fazer a salada que acompanhou o prato também provocaram a morte de uma série de lagartas e outros bichos. 

Enfim... isto, nos dias de hoje, não é um assunto fácil, sobretudo por causa das condições terríveis em que vive a maioria dos animais que comemos... Mas o que é que o Buda diria acerca de comer carne se vivesse nos nossos dias?

A seguinte resposta não é minha, mas sim deste livro:

Todas as coisas têm que morrer; desde que não causemos a sua morte, não estamos a causar mais sofrimento ao comê-las - a não ser que causemos esse sofrimento a nós próprios, na nossa mente. 

Na minha opinião, o Buda diria para optarmos por carne de animais livres, e assim não contribuirmos para o crescimento da indústria da carne e, portanto, para o sofrimento dos animais. Também diria para preferirmos plantas da agricultura biológica e para soltarmos a minhoca que veio com a salada e comermos a salada, em vez de a mandarmos de volta para a cozinha com ar de nojo... 

Esta parte estou a brincar, mas isto é um assunto sério, que faz correr muita tinta e levantar vozes vindas de todas as direções... Mas, espero que fique bem claro - os budistas não têm que ser vegetarianos!

Um dos melhores videos que vi que aborda este assunto é desta blogger, antiga monja budista, que responde muito bem a esta pergunta, os budistas são vegetarianos ou vegans?


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20 comentários:

  1. Ser vegetariano, não é, de todo, um fundamentalismo. Muito menos é fundamentalismo existirem escolas vegetarianas. Existem as duas escolhas e só vai para as vegetarianas quem quer. Outra coisa importante é que, muitos monjes queriam seguir o vegetarianismo mas os monjes vivem de comida cozinhada por outros. Não são eles que escolhem o que quer, portanto têm de comer a comida que lhes for oferecida. Com isto, claramente não podem ser vegetarianos, pois nem toda a gente que lhes oferece comida o é.
    Outra razão para hoje em dia o budismo seguir o caminho vegetariano é pela maneira como os animais são tratados, o que está totalmente errado e nada do que é praticado pela indústria é algo que os budistas gostem. Daí a decisão de serem vegetarianos. Tudo bem que poderíamos comer animais livres, mas mesmo assim caso o animal já não estivesse morto ou caso não fosse oferecida comida ao budista ele não poderia comer o animal.
    Ser vegetariano não é fundamentalismo, muito menos é os budistas adoptarem essa postura, tendo em conta o que eles defendem e a nossa realidade de hoje em dia.

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  2. Olá! Bom, eu estava estes dias a me perguntar se budistas são todos vegetarianos porque tudo que eu vi sobre budistas nos últimos tempos estava ligado ao vegetarianismo. Legal você esclarecer isso. Eu sou cristã, mas acho muito interessante entender sobre o que outros pensam, afinal, isso é o que diminuiu o preconceito e os achismos tão comuns.

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  3. Oi Rita, mais um texto ótimo.
    Não sou budista e nem vegetariana, mas amo ler suas opiniões. Demostram como outras pessoas pesam e me tornam mais conhecedora do mundo que está ao meu redor.
    Obrigada por compartilhar tanto.

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  4. Tão certeiro!

    Por acaso, costumo dizer em tom de desafio, aos defensores da carne, que deveriam comer carne se fossem capazes de a obter por si próprios...isto porque as pessoas não ligam o facto de um naco de carne no talho ter vindo de um animal, e que para isso esse animal morreu...faz-se de conta...a verdade é que se fizessem a associação muita gente deixaria de comer ou pelo menos ganharia mais respeito pelo que coloca no prato.

    Não sou vegetariana nem budista, ando a estudar as duas coisas, mas já não compro nem cozinho carne em casa. Depois não tenho avó mas tenho Mãe e Sogras, todas boas cozinheiras. Budista poderei tornar-me mas vegetariana vai ser muito difícil! Sempre achei falta de respeito não comer o que nos é servido na casa dos outros, salvaguardando as devidas excepções porque nem toda agente é obrigada a gostar de tudo.

    Gostei muito de ler isto hoje!

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  5. Olá, Rita, sou aquela leitora que comprou o livro GTD e se pretende iniciar o mais rápido possivel neste método! estou ainda na fase de ler o livro e começar a entrar no conceito que continua a entusiasmar-me. Tenho relido com outra atenção os teus posts antigos e não consegui perceber bem uma coisa...sei que passaste por várias formas de agenda e sei que é uma decisão pessoal, mas acho q sou um pouco como tu: preciso de algo o mais digital possível, mas nao sei se consigo nao ter papel (sendo q me identifico bastante com uma agenda por dias). neste momento em relação à inbox, plano projectos, coisas a fazer, lista de um dia/talvez e varias outras listas que são sugeridas no método, qual é a tua ferramenta principal?ferramenta digital? se sim qual?e o caderno (se ainda usas) usas para quê? Obrigada!

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  6. Olá Rita, há pouco tempo me surpreendi quando li que os budistas não pregam o vegetarianismo, exatamente como explicou. Achei até interessante porque as pessoas rotulam muito.
    Sou vegetariana há 4 anos e me sinto bem, vários fatores me fizeram mudar para este lado, desde adolescente queria mudar mas tinha receio de ser "rotulada" de diferente, excêntrica ou hippie... enfim era tudo bobagem da minha cabeça.
    O bacana é que a decisão foi minha e totalmente espontânea, nunca tive amigos próximos que fossem vegetarianos ou alguma filosofia/religião que me fizesse mudar. Foi natural e estou bem.
    Quando me perguntam eu explico que é uma decisão íntima e que há fontes confiáveis a favor e contra, basta escolher. Simples e tranquilo.
    Minha família ficou muito triste no início, mas hoje todos entendem e vou em qualquer festa sem medo, vou encontrar amigos e não a comida em si, com este pensamento me livro de ser obrigada a comer para agradar.
    Seu blog é maravilhoso, leio tudo com muito amor. Sinto que cada linha que escreve tem uma chave e foi intimamente escrita para nos fazer refletir.

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  7. Olá Rita!

    Adorei esse post! Abriu um pouco mais a minha mente para os ensinamentos e a própria vivência mais próxima ao budismo. Aproveito para enfatizar que adoro o seu blog!

    Gratidão!

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  8. É verdade que nem todos os budistas são vegetarianos, pelas razões indicadas e outras, mas também é verdade que todos os mestres que conheço aconselham a não comer animais por razões éticas e por crença em coisas como reencarnação. SS o Dalai Lama, pelo que sei, come animais por motivos de saúde e faz algumas práticas espirituais dedicadas a esses seres. Espero ter contribuido para a reflexão. ;) Beijinho

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  9. OI Rita, adorei a reflexão sobre o assunto! Já fui vegetariana durante um ano e comecei logo que comecei meu curso de Yoga. Este curso foi ministrado por um Dada (monge) da Organização Ananda Marga, fundada pelo "Bábá" Srii Srii AnandaMurti e nada tem a ver com o Budismo, como bem sabes, por ser também uma estudiosa da filosofia do Yoga.
    Bom, neste curso estudamos que alguns alimentos possuem energia sutil (satvicos) e alguns possuem energia pesada (Tamásicos)...A carne seria classificada como alimento de energia pesada, que enfraquece a mente e trazem desorientação, torpor...alho e cebola também são classificados desta forma. É claro que desde o início dos estudos fomos orientados a seguir o vegetarianismo pelas razões energéticas acima expostas, para seguirmos corretamente Ahim'sa (não praticar violência contra qualqur ser) e também porque o professor veio da Índia e o vegetarianismo vem de sua cultura. Importante pontuar que essa foi só uma orientação...jamais fomos obrigados a seguir a dieta.
    Todo esse longo texto foi para compartilhar minha experiência com o vegetarianismo e dizer que o padrão de pensamentos muda SIM e pra melhor...comecei a notar a mente mais leve, os pensamentos mais sutis e mais clareza no terceiro olho (visão espiritual).
    Apenas tive um pequeno problema que me fez largar a disciplina de não comer carne: a minha alimentação ficou muito pior: muitos carboidratos, comida industrializada, poucas vitaminas ingeridas, pouca ingestão de vegetais que reponham proteína (porque, desde criança, minha mãe nunca incentivou a ingesta dos alimentos corretos...hoje, depois de adulta tento mudar isso). E além destes, muitos outros fatores me fizeram abandonar esse estilo de vida, entre eles a gestação e o medo de ficar anêmica.
    Ainda pretendo voltar a este estilo de vida, mas quando fizer, pretendo estar mais preparada e me alimentando de forma mais correta possível para não ter carência de nutrientes.
    Perdoe pelo texto gigante e, mais uma vez, parabéns pelo tópico abordado!
    Abraços afetuosos

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  10. Sara Grilo12/08/15, 10:31

    Bom dia!
    Ó Rita desculpe-me mas como sou da aldeia tenho que dizer isto, provavelmente a avó velhota teria mesmo morto a galinha ou o coelho para fazer a refeição para o neto, porque é assim a forma de comermos os tais animais livres que criamos no campo!
    Estou a achar uma certa contradição, porque a carne do supermercado também é morta de propósito para vender ou não?
    Não sou vegetariana, nem vegan e gosto muito de carne e peixe, mas estou habituada à dura realidade de ter que se matar os animais que criamos para comer (raras foram as vezes que comprei carne no talho), por isso acho um pouco ingénuo dizer-se que posso comer porque não fui eu que provoquei a morte do animal, mas se não existissem consumidores também não havia produção, seja biológico ou não. Penso que temos que assumir e aceitar a nossa quota parte de responsabilidade...
    E os vegetarianos também não estão livres dessa responsabilidade, quem sabe em que condições e sob que "sacrifícios" humanos se produz o tofu, a soja, certos cereais que vêem de países longínquos, etc...
    Obrigada pelo tempo de antena.
    Sara Grilo

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    1. É mesmo este o meu pensamento, Sara Grilo. Também sou da aldeia e ainda este fim-de-semana a minha mãe matou duas galinhas que comprou à vizinha. Não fui eu que as matei mas comi o arroz de cabidela que a minha mãe fez. Estava uma delícia mas tenho perfeita consciência que as bichinhas foram mortas para me dar o prazer de uma refeição. Eu raramente compro carne até porque prefiro comer poucas vezes mas esta mais caseira que a minha mãe arranja. Mas compreendo perfeitamente quando os vegetarianos defendem que não se deve matar um animal para nos dar prazer alimentar até porque existem substitutos não animais. Em relação às filosofias religiosas cada um deve de facto seguir a dieta que acha mais adequada ao fim a que se propõe e de acordo com a filosofia que segue. Eu não sigo nenhuma filosofia, vou tirando um pouquinho de cada e tentando não fazer muito mal ao mundo que me rodeia e isso inclui tentar comer menos bicheza e ter comportamentos mais ecológicos. :)

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  11. Acredito que o vegetarianismo é uma ótima opção para nossa vida, contribuindo para o melhor funcionamento do nosso organismo assim como Deus nos orientou na Bíblia no Antigo Testamento. Mas também devo admitir que é difícil abandonar totalmente velhos hábitos carnívoros.
    Fica a reflexão que vi em um post no Facebook: sua geladeira é um cemitério (de carne morta) ou um jardim (de frutas e legumes)?
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  12. Rita,

    também acho que vegetarianismo deve ser uma opção pessoal.
    Mas o argumento de "não matar de proposito" não é bem fundamentado: quando comemos a carne morta do supermercado, é um consumo que ... provoca um apelo a uma nova carne à vender - uma questão simples de oferta e demanda, ou melhor dizendo, de demanda (consumo) e oferta (um outro animal deve ser posto à venda). Uma questão de feed-back. Finalmente tudo bem com isto, mas menos hipocrisia para mim torna mais fácil ver a coisa toda como uma longa cadeia de predadores, como você disse, é inevitavel que acabemos por comer microorganismos etc... e bem... outros microrganismos nos comerão quando nossa hora chegar... :-)
    Joia.

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  13. Boa noite, Rita!
    Comecei a me interessar pelo budismo faz pouco tempo e admito que essa era uma preocupação, já que eu sou chegada em um bife.

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  14. Anne Carvalho17/08/15, 14:44

    Bom dia, Rita.
    Não sou budista, sou espírita kardecista. Assim como no budismo, no espiritismo também existe uma certa "tendência" e "estímulo" ao vegetarianismo (acho que com menos força que no budismo; os vegetarianos ainda são minoria). Na doutrina espírita é ensinado que o "ideal" seria uma dieta vegetariana, assim como o ideal seria não nos aborrecermos nunca, não perdermos a paciência nunca, não errarmos nunca (sermos iguais a Cristo). Ou seja, o "ideal" é algo ainda inalcançável nessa existência pra maioria de nós, mas algo que devemos nos focar em buscar. Cada um deve buscar o autoconhecimento para melhorar suas imperfeições dentro de suas capacidades e limites...
    Decidi há pouco mais de um ano me tornar vegetariana, e quando me sentisse confortável, cortar também o leite e os ovos. Percebi uma piora no meu organismo desde então (tenho tido muita falta de memória, que antes era ótima, e meu rendimento físico em corridas caiu consideravelmente), mas acho que tem valido a pena (posso reforçar minha memória com alguns treinamentos e uso de agenda, e faço corridas só por saúde e diversão, não sou competidora profissional).
    Tenho lido textos a respeito dessa "opção de vida vegetariana/vegana", e por último li um que dizia que um mundo realmente harmônico só seria conseguido quando todos fôssemos veganos, ou seja, quando todos parássemos de utilizar outras espécies como "objetos" pra satisfazer nosso paladar, nossa vaidade, etc... Pra mim fez até um certo sentido, mas ando ainda confusa com esse conceito... Oras, um leão nunca vai se tornar vegano!! Então, nesse caso, eu estaria lutando por um mundo completamente utópico e inatingível!! Ou será que somente os seres-humanos são levados em consideração quando se diz "todos respeitassem as demais espécies"? Não vejo qual seria a diferença pra uma zebra, por exemplo, se seu filhote for morto pra servir de alimento pra um leão ou pra um humano... Ela sofreria menos se sua vida, ou de seu filhote, servisse pra alimentar um animal, e não um humano? Não faz muito sentido... De qualquer forma, continuo seguindo a dieta vegetariana, e pretendo me aventurar também no veganismo, porque acredito que meu "auto-aperfeiçoamento" deva acontecer independente dos demais...

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  15. Anne Carvalho17/08/15, 15:18

    Complementando o que falei, somente tenho divergência com relação a uma questão, que é de "não se tornar alguém desagradável", como no caso do neto que não quisesse comer a comida preparada pela avó.
    Meu marido (adora carne) faz reclamações recorrentes nesse sentido. Diz que se sente incomodado quando quer me convidar pra um restaurante, por saber que não existem muitas opções vegetarianas, que nossos amigos se incomodam por notar que muitas vezes eu não como nada, ou pouco, e que trago preocupações pras pessoas que queiram me convidar pra um jantar em sua casa. Ele diz que eu deveria comer carne "socialmente". Oras, isso me incomoda bastante, pois eu nunca reclamei de não haver opções pra mim. Na verdade, ultimamente como sempre um pouco antes de sair de casa. Assim, se no local tiver alguma boa opção vegetariana, eu como, e se não tiver, tomo só um suco, e não fico passando fome. De qualquer forma, as pessoas se incomodam por mim, mesmo que eu não reclame.
    Acho que existem vários motivos que levem alguém a não comer carne (saúde, gosto, bem-estar, e, no meu caso, por considerar de certa forma "errado" consumir a carne). Não acho legal que eu tenha que abrir mão de algo que considero "correto" somente pra satisfazer os demais. Se eu não acho certo consumir carne, não consumo, e os outros devem me respeitar por isso.
    Essa situação me lembra uma contada por um conhecido. Tenho um conhecido que trabalha no Amazonas, levando turistas pra conhecer uma aldeia indígena. É costume desses indígenas "oferecer" suas mulheres para os visitantes ilustres e amigos. Ele disse que já ofereceram várias mulheres a ele, como prova de amizade, e ele aceitou (ou seja, manteve relações sexuais com essas índias). Ele disse que aconteceu de uma vez oferecerem uma menina de 12 anos (pros índios, após a menstruação, a menina já é mulher). Ele não aceitou, e disse pro chefe da tribo que na cultura dele, ela era só uma criança, apesar de já ter menstruado, e que pra ele era errado fazer aquilo. O índio se aborreceu, disse que ele estava fazendo uma ofensa à tribo em recusar a oferta, e passou três meses de cara amarrada e sem cumprimentá-lo.
    Minha pergunta àqueles que acham que vegetarianos deveriam comer carne "socialmente" para não "chocar" os carnívoros: Esse meu conhecido deveria ter tido relações com a garota para não "chocar" a tribo? Se ele considera errado, deveria ter passado por cima de suas crenças e valores somente pra satisfazer ao chefe da tribo? Será que a avó que quer que o neto coma o risoto de coelho (ou no caso, o meu marido que quer que eu coma carne "socialmente" pra não desagradar aos amigos e preocupar quem nos convida a jantares) não está se comportando como o chefe da tribo indígena, que queria que o homem passasse por cima de seus valores e concepção de certo e errado?

    Esse comentário foi mais um desabafo!! Beijos, Rita!

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    1. Adorei os seus comentários. Colocam várias questões pertinentes. Boa sorte nessa demanda para manter o que é certo para si. :)

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    2. Anne Carvalho,

      tenho dúvidas que essas índias tenham, no seu íntimo, consentido ter tais relações sexuais com o seu amigo. É tão grave a 'oferta' da menina de 12 anos como as das mulheres mais velhas: ambas constituem uma violação dos seus direitos fundamentais (integridade física e psicológica, nomeadamente), pelo menos nos países desenvolvidos. O seu amigo não foi coerente e choca-me que tenha aceitado tais 'ofertas', violando assim a vontade dessas mulheres, subjugadas a uma cultura com costumes tão arcaicos.

      É triste.
      Creio e espero não ter amigos assim. Revolve-me as entranhas.

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  16. Rita, bem-haja pela partilha. De facto é uma questão bastante controversa, e a mim própria me baralha. Há muitos anos que deixei de comer carnes vermelhas, mas como pontualmente se me apetecer mesmo muito ou para não fazer a desfeita à "avózinha" (ou familiar equivalente). Adoro animais e em casa tenho 4 carnívoros - 3 gatos que caçam e 1 cão. Confesso que me incomodou algum tempo a caça diária dos felinos (eles são um bocadinho para o sádico), sobretudo numa fase em que fui estitamente vegetariana, mas depois conclui que a solução é efetivamente o caminho do meio. Sem fundamentalismos, vivendo no presente e respeitando o equilíbrio da natureza.

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  17. Olá, Rita! Adorei o post.
    Eu estava pensando q, apesar de isto ser uma escolha pessoal, tb é verdade q uma demanda maior gera uma maior quantidade ofertada, então comprar carne q ñ foi morta exclusivamente para si ainda gera mais mortes de animais. E, se a carne q está no supermercado ñ for comprada por nós, vai ser comprada por outra pessoa. Se for parar no lixo, é bem provável q já fosse apesar de comprarmos.
    Eu ñ sou vegetariana nem budista, mas me interesso pelos dois assuntos e os respeito mto.
    Obg pelo texto!

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Obrigada pelo comentário!

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