Já lá vão quase 2 anos desde que comecei a praticar yoga. Os meus primeiros professores foram os do site Ekhart Yoga. Depois comecei a ter aulas de hatha yoga e fiz formação de 200 horas como instrutora de hatha yoga. Desde cedo que percebi que os estilos mais vigorosos, como o ashtanga e o vinyasa flow, são os que mais me atraem.
A dada altura decidi que o ashtanga era o caminho. Comecei a praticar mais ashtanga, pratiquei com professores autorizados (o processo de autorização para ensinar ashtanga não tem nada a ver com os cursos de 200 horas reconhecidos pela Yoga Alliance), e comecei a achar que não há melhor yoga que o ashtanga, pelo menos para mim.
No entanto, a minha relação com o ashtanga sempre foi de amor-ódio. Gosto das sequências, gosto da exigência física, gosto do desafio que é o ashtanga e gosto de como me sinto depois da prática - super cansada mas feliz.
Mas o ashtanga também tem coisas que nunca gostei. O ashtanga tem demasiadas regras. Uma das regras que menos gosto no ashtanga é aquela de só se poder avançar para a postura seguinte quando a anterior está bem compreendida (leia-se, quando a conseguimos fazer). Para quem não sabe, o ashtanga é um conjunto de 6 séries ou sequências pré-definidas de asanas; a maioria do comum mortal não passa da primeira série.
Quer isto dizer que, de acordo com a tradição do ashtanga, eu fico-me pelo marichyasana D (porque ainda não consigo agarrar atrás). Quer isto dizer que, de acordo com a tradição, não posso fazer as posturas seguintes, que incluem alguns asanas bem mais fáceis (como navasana e baddha konasana) e outros mais necessários para o meu corpo. Quer isto dizer que, de acordo com a tradição, não posso fazer os backbends da segunda série, que tanta falta me fazem (porque tenho os ombros muito presos).
Há 40 anos atrás, quando os primeiros ocidentais foram para Mysore, na Índia, aprender ashtanga com o guru, Sri K. Pattabhi Jois, as duas primeiras séries eram ensinadas em simultâneo, o que faz muito mais sentido, pois a primeira tem sobretudo forward bends e a segunda tem os backbends. Era, na minha opinião, uma prática mais equilibrada.
No entanto, com a expansão do ashtanga para o Ocidente, são centenas as pessoas que estão, em simultâneo, em Mysore para estudar, não com Jois que faleceu em 2009, mas com o neto, Sharath. Com tanta gente, foi necessário limitar o avanço das pessoas, senão não se dava conta. Aliás, a primeira postura da segunda série (pashasana) é um porteiro fantástico que regula o avanço dos praticantes para a segunda série - ou melhor, que barra logo ali imensa gente (porque é uma postura muito difícil)! Mas até aqui compreendo - há demasiados praticantes de ashtanga a visitar Mysore.
Mas isto de nos barrarem acontece em todo o lado. Da primeira vez que pratiquei em Lisboa num shala, barraram-me a meio da primeira série, no bhujapidasana, ou seja, não pude praticar mais posturas (mesmo havendo asanas mais fáceis a seguir). Não gostei de ter pago 15 euros para fazer metade da primeira série. Quando estive em Vila Nova de Milfontes, foi diferente. Pude praticar toda a primeira série e não vi os professores a barrarem os praticantes por ainda não serem capazes de praticar bem um dado asana - assim, sim!
Os puristas do ashtanga dir-me-iam que o sistema é assim que funciona. Aliás, já conheci alguns fundamentalistas do ashtanga que olham para mim como se eu tivesse cometido um crime, quando refiro que também pratico asanas das outras séries (como koundinyasana e astavakrasana, que se vê nos videos).
Mas isto tudo para dizer que sempre achei que as regras são para ser quebradas (excepto aquelas óbvias, tipo não matar ou não roubar, claro!) e estas regras do ashtanga não são exceção. Portanto, fui praticando a primeira série do ashtanga (toda!) mas também praticava outras coisas e outros asanas, porque me fazem falta e porque são divertidos. Mas de vez em quando uma vozinha cá dentro dizia-me que não devia fazer assim, devia era praticar ashtanga sempre, 6 vezes por semana, como manda a tradição, e esquecer o resto. E quando não conseguia levantar-me cedo para praticar (preciso de hora e meia) ficava logo stressada... Ora, não é suposto o yoga trazer-nos stress.
Estas coisas começaram a fazer mais sentido para mim quando li o texto Why I stopped practicing ashtanga yoga e identifiquei-me com vários dos pontos referidos pela autora. Por exemplo, há o problema da adição ao asana - o objectivo da prática do yoga passa a ser conseguir fazer determinado asana... Há a pressão diária para praticar - que se transforma em stress quando não se pratica... Há também o problema da arbitrariedade das regras do ashtanga - como já referi, há 40 anos Jois ensinava a primeira e a segunda série em simultâneo, enquanto agora só se avança para a postura seguinte quando a anterior está bem feita.
Além destas regras do ashtanga que para mim não fazem sentido (e as quais eu quebrava, claro), comecei a perceber que em certos dias o meu corpo pedia um tipo de prática e noutros dias outro tipo. Certos dias só pensava no ashtanga, mas noutros dias preferia fazer yin, por exemplo. Percebi que ao praticar sempre ashtanga não estava a ouvir o meu corpo nem as suas necessidades.
Não me entendam mal: eu adoro o ashtanga vinyasa yoga. Se tiver que escolher entre uma aula de ashtanga e uma de outra coisa, não há dúvidas que escolho o ashtanga. Mas não sou fundamentalista e não sou pessoa de seguir regras com as quais não concordo. Tive esta batalha mental durante muito tempo. Certos dias tinha a certeza que o ashtanga era o caminho, outros dias nem queria ouvir falar disso.
Mas isto tudo para dizer que há uns tempos renovei a minha subscrição no Ekhart Yoga e recomecei a fazer aulas online. Pratico ashtanga quando me apetece, pratico vinyasa flow quando me apetece, pratico yoga restorativo ou yin yoga ou hatha yoga ou seja o que for quando me apetece. Tenho seguido o que o corpo me pede, e não o que as regras dizem que devo fazer.
Claro que a minha prática continua a ter o ashtanga na sua base, porque é disso que eu gosto e se me puserem a praticar sozinha, é a primeira série do ashtanga que eu vou praticar. Mas também comecei a explorar o vinyasa flow (que derivou do ashtanga, tal como o power yoga e o rocket yoga) e até o yin yoga.
Atualmente tenho praticado quase todos os dias, 2 ou 3 vezes por dia. De manhã é quando faço uma prática mais longa e mais forte; ou ashtanga ou vinyasa flow, mas sempre puxado (leia-se, que dê para cansar e suar). Antes de ir dormir, faço 30-60 minutos de hatha ou restorativo ou yin. Tenho focado estas práticas noturnas no aumento da flexibilidade dos ombros, pois preciso mesmo muito. Às vezes, pratico também um pouco à tarde, meia hora ou pouco mais; ou faço uma prática mais energética ou mais calma, dependendo do que diz o meu corpo.
Tenho feito a maioria das aulas com o Ekhart Yoga - e adoro! Juro que ninguém me pagou para fazer esta publicidade, mas eu gosto mesmo do site e aconselho-o mesmo a quem não percebe bem inglês. São mais de mil aulas, são adicionadas aulas novas todos os dias e dá para escolher as aulas por tempo, nível de dificuldade, professor e estilo. Portanto, posso ter só 10 minutos, mas há lá aulas de 10 minutos que posso fazer - não há desculpas para não praticar yoga!
E pronto! Tive que pôr estes meus pensamentos acerca da minha prática de yoga no papel, talvez para eu própria conseguir compreendê-los melhor...
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Obrigada!!
Praticas através de vídeos, certo?
ResponderEliminarHá outro site (http://www.yogadownload.com/) em que também há muitos videos mas alguns dão pdfs com as sequências.
Olá Rita
ResponderEliminarJá tinha saudades tuas e dos teus posts de ioga. Continuas a escrever num blog anónimo sobre ioga? Boas práticas. Beijinhos
Juro que depois de ler isto, me deu vontade de experimentar essas aulas online :)
ResponderEliminarGostei muito deste post :)
ResponderEliminarnovo curso.....emprego a tempo inteiro....marido e miúdo.....yoga 2 horas por dia....blogue......ufa!
ResponderEliminarFoi graças a ti que comecei a fazer yoga em casa com o Ekhart Yoga, e também gosto bastante, Já tive aulas durante um ano com uma professora, mas como houve alterações no local da prática e outras na minha vida, voltei às aulas em casa.
ResponderEliminarObrigada pela partilha.
Clara
Yin é excelente para a flexibilidade. E sim, também não gosto de esses tipos de regras. Segue o que o corpo e a mente pedem.
ResponderEliminarPratico e indico o SwáSthya Yôga, que é a sistematização do Yôga Antigo feita pelo brasileiro DeRose, conhecido escritor e professor de Yôga, realizada na década de 1960. A prática compreende de oito técnicas, por exemplo meditação, púja, pranayámá e, principalmente, os ásanas. Pode-se praticar todos os asánas, independentemente do nível de dificuldade, o método entende conforme for passando o tempo o corpo irá se adequando e se ajustando ao ásana.
ResponderEliminarO DeRose publicou já inúmeros livros, inclusive o Tratado de Yôga. No próprio site dele há livros online gratuitos para download e aprimoramento do conhecimento sobre o yôga antigo.
Há curso de formação de instrutores de yôga e existem escolas no mundo todo.
É bem interessante, vale a pena procurar caso este seja do seu interesse.
Segue o site do métodos e demais informações: http://www.metododerose.org/
Um abraço,
Samantha.
Lovely article, don't push yourself too much with the Ashtanga. And eh.. thanks for the plug! xx
ResponderEliminarCara Rita, concordo que a um dos grandes benefício do Yoga é o contacto e a aceitação de nós mesmos, nas nossas limitações e no nosso desenvolvimento. Há que cuidar que as nossas cabeças não convertam a prática numa obsessão perfeccionista, embora respeite todas as tradições e as interpretações que são feitas das mesmas. Eu própria sou neste momento praticante de Vinyasa, tendo sido anteriormente praticante de Hatha. Mantenho a minha prática a partir de um site portugues (www.omeuyoga.pt), embora procure praticar em grupo e com professor regularmente.
ResponderEliminarOlá Sónia, obrigada pelo link, não sabia que existia um site destes em português!
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