Ontem estive em mais uma tarde de atenção plena organizada pela sangha que frequento aqui no Algarve, a Sangha Flor de Amendoeira, que pratica mindfulness na tradição do monge Thich Nhat Hanh. Estas tardes de mindfulness consistem em vários tipos de meditação - guiada, sentada e caminhando, chá e biscoitos e, por fim, partilha do Dharma (dharma são os ensinamentos do Buda). Na partilha do Dharma é dado um tema e cada um conta as suas experiências relacionadas com esse tema. Ontem falámos do poder de não fazer nada.
Antes de partilhar as minhas experiências, ouvi os outros com atenção e reflecti. Apercebi-me que os últimos meses da minha vida (desde que entrei para o curso de psicologia e tive, e tenho, que equilibrar isso com o trabalho e a família e tudo o resto) foram dos mais ocupados de sempre. No entanto, tenho sido super produtiva e tenho tempo para fazer outras coisas. Consigo ir às aulas, fazer os trabalhos, estudar (e tirar excelentes notas), consigo fazer investigação, escrever artigos, ter muitas ideias, estabeleci novas colaborações, recomecei a tocar piano, tenho mais tempo para ler... Estou, de facto, mais ocupada, mas consigo fazer muito mais.
Mas como é que é possível?
É possível porque tenho momentos em que tudo pára e consigo voltar a mim mesma. Levo a meditação mais a sério, o que me torna mais concentrada; respiro de forma consciente várias vezes ao dia, o que me ajuda a acalmar e a encontrar o foco; tenho passado mais tempo sozinha, o que é imprescindível para uma pessoa introvertida como eu, ganhando assim mais energia; tenho reflectido e posto em prática os ensinamentos do Buda e, com isso, vejo o mundo mais cor de rosa (por exemplo, ainda esta manhã passei no corredor por uma colega, disse-lhe bom dia e ela fez um sorriso amarelo; a minha primeira reacção foi pensar "que parva", mas logo de seguida disse para mim própria "não a julgues! não sabes o que se passa com ela, por isso não a julgues!"; e em vez de ficar a pensar mal dela, a emoção que surgiu foi a compaixão).
Parar e não fazer nada é um conceito importante no budismo e é uma prática fundamental nos ensinamentos do Thich Nhat Hanh. Mas parar e não fazer nada é importante sobretudo para pessoas muito ocupadas. Como já pude comprovar, parar e não fazer nada torna-me mais produtiva. Em vez de passar o dia stressada, a fazer várias coisas ao mesmo tempo, tento fazer pouca coisa em cada dia, mas dando toda a minha atenção ao que estou a fazer. Em vez de levar companhia (humana) ou livros para ler enquanto almoço, tenho comido sozinha, em silêncio, com atenção plena - presto atenção à comida e como mais devagar, e assim até fico satisfeita com menos comida!
Qualquer momento do nosso dia a dia pode ser um momento de atenção plena. Até quando lavamos os pratos! Em vez de pensares na chatice que é lavar a louça, sente antes a água nas mãos, a espuma do detergente, a alegria que é tirar a sujidade da louça e vê-la a brilhar... Se tivermos esta atitude perante todas as atividades do nosso dia a dia, as coisas ficam mais bem feitas e tiramos delas muito mais prazer.
Ontem a Jane contava que um dia, ao ver uma das irmãs de Plum Village (um mosteiro budista em França) a cortar cenoura, Thich Nhat Hanh perguntou-lhe porque é que ela estava a cortar as cenouras. A irmã respondeu que tinha que ser, era para o jantar. Resposta errada, disse ele; estás a cortar as cenouras porque gostas de cortar cenouras, porque isso traz-te alegria!
É impossível não ficar com um sorriso na cara quando olhamos para as coisas desta forma...
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Excelente post! Apesar de ser introvertida, minha cabeça parece pensar sem parar, a ponto de estar a fazer algo, lembrar-me de outra coisa, parar o que estou fazendo e quando volto já perdi o fio da meada. Estes posts sobre o mindfulness tem sido muito úteis para mim, estou aprendendo muito, obrigada por partilhar.
ResponderEliminarbjs
MARAVILHOSO !!!!
ResponderEliminarAinda vou reler muito para aplicar na minha vida.
Eliza
Rita, estou muito feliz que tenhas retomado as aulas de piano!!! =D Já há muito tempo que estudo diferentes tipos de mindfulness. O da comida me lembrou a cena do filme Into the Wild, em que o actor principal está comendo uma maçã e falando para ela, como ela está apetitosa e tal, completamente no momento de comer a maçã. A cena é simplesmente adorável!
ResponderEliminarTambém me surpreendi pois é algo que já faço ao natural, sem saber que tinha ligação com o Thich Nhat Hanh.
Bom fim de semana!
Bom post. tem muitos pontos que previso de avaliar em mim. Obrigada :)
ResponderEliminarOlá! Faço banners (headers) para blog. Faço encomendas. Dá uma olhadinha em alguns modelos de banners na minha página: www.inovesuapagina.blogspot.com
ResponderEliminarDesde já, agradeço sua atenção.
Grande beijo.
Amei seu blog!
Bom post Rita, não aproveito tão bem o tempo como tu, mas apesar de infelizmente estar desempregada. Aprendi a usar o meu tempo "livre", para por vezes não fazer nada ou simplesmente dedicar a mim mesma.
ResponderEliminarTenho dois filhos, sou casada, mas adoro fazer programa All by myself!!!! Ir ao cinema, ir ao shopping, ir ao jardim, andar de carro, andar de metro, andar a pé, almoçar, tento sempre é destinar um objectivo, um local novo, para adquirir conhecimento, "infelizmente" ou "felizmente" durante 8 anos de casada e 11 de namoro vivi muito em função dos outros, agora vivo mais em função de mim, porque a vida é minha, e eu quero ser feliz!...quando estou com a nóia, ou mais em baixo uso esta técnica e para mim resulta.
Tanto que já ouvi falar em budismo, mas agora, vá-se lá saber porquê, fiquei verdadeiramente curiosa e interessada. Já corri o seu blog de uma ponta a outra e adorei, que zen feeling me passou. Thanks a lot!!
ResponderEliminarSeu post me fez refletir Rita ... ando precisando exercitar minha atenção.
ResponderEliminarsibellesampaio.blogspot.com.br