09/03/2015

O que significa parar e prestar atenção

Ontem estive em mais uma tarde de atenção plena organizada pela sangha que frequento aqui no Algarve, a Sangha Flor de Amendoeira, que pratica mindfulness na tradição do monge Thich Nhat Hanh. Estas tardes de mindfulness consistem em vários tipos de meditação - guiada, sentada e caminhando, chá e biscoitos e, por fim, partilha do Dharma (dharma são os ensinamentos do Buda). Na partilha do Dharma é dado um tema e cada um conta as suas experiências relacionadas com esse tema. Ontem falámos do poder de não fazer nada.

Antes de partilhar as minhas experiências, ouvi os outros com atenção e reflecti. Apercebi-me que os últimos meses da minha vida (desde que entrei para o curso de psicologia e tive, e tenho, que equilibrar isso com o trabalho e a família e tudo o resto) foram dos mais ocupados de sempre. No entanto, tenho sido super produtiva e tenho tempo para fazer outras coisas. Consigo ir às aulas, fazer os trabalhos, estudar (e tirar excelentes notas), consigo fazer investigação, escrever artigos, ter muitas ideias, estabeleci novas colaborações, recomecei a tocar piano, tenho mais tempo para ler... Estou, de facto, mais ocupada, mas consigo fazer muito mais. 

Mas como é que é possível? 

É possível porque tenho momentos em que tudo pára e consigo voltar a mim mesma. Levo a meditação mais a sério, o que me torna mais concentrada; respiro de forma consciente várias vezes ao dia, o que me ajuda a acalmar e a encontrar o foco; tenho passado mais tempo sozinha, o que é imprescindível para uma pessoa introvertida como eu, ganhando assim mais energia; tenho reflectido e posto em prática os ensinamentos do Buda e, com isso, vejo o mundo mais cor de rosa (por exemplo, ainda esta manhã passei no corredor por uma colega, disse-lhe bom dia e ela fez um sorriso amarelo; a minha primeira reacção foi pensar "que parva", mas logo de seguida disse para mim própria "não a julgues! não sabes o que se passa com ela, por isso não a julgues!"; e em vez de ficar a pensar mal dela, a emoção que surgiu foi a compaixão).

Parar e não fazer nada é um conceito importante no budismo e é uma prática fundamental nos ensinamentos do Thich Nhat Hanh. Mas parar e não fazer nada é importante sobretudo para pessoas muito ocupadas. Como já pude comprovar, parar e não fazer nada torna-me mais produtiva. Em vez de passar o dia stressada, a fazer várias coisas ao mesmo tempo, tento fazer pouca coisa em cada dia, mas dando toda a minha atenção ao que estou a fazer. Em vez de levar companhia (humana) ou livros para ler enquanto almoço, tenho comido sozinha, em silêncio, com atenção plena - presto atenção à comida e como mais devagar, e assim até fico satisfeita com menos comida!

Qualquer momento do nosso dia a dia pode ser um momento de atenção plena. Até quando lavamos os pratos! Em vez de pensares na chatice que é lavar a louça, sente antes a água nas mãos, a espuma do detergente, a alegria que é tirar a sujidade da louça e vê-la a brilhar... Se tivermos esta atitude perante todas as atividades do nosso dia a dia, as coisas ficam mais bem feitas e tiramos delas muito mais prazer. 

Ontem a Jane contava que um dia, ao ver uma das irmãs de Plum Village (um mosteiro budista em França) a cortar cenoura, Thich Nhat Hanh perguntou-lhe porque é que ela estava a cortar as cenouras. A irmã respondeu que tinha que ser, era para o jantar. Resposta errada, disse ele; estás a cortar as cenouras porque gostas de cortar cenouras, porque isso traz-te alegria! 

É impossível não ficar com um sorriso na cara quando olhamos para as coisas desta forma...


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8 comentários:

  1. Excelente post! Apesar de ser introvertida, minha cabeça parece pensar sem parar, a ponto de estar a fazer algo, lembrar-me de outra coisa, parar o que estou fazendo e quando volto já perdi o fio da meada. Estes posts sobre o mindfulness tem sido muito úteis para mim, estou aprendendo muito, obrigada por partilhar.
    bjs

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  2. MARAVILHOSO !!!!
    Ainda vou reler muito para aplicar na minha vida.
    Eliza

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  3. Rita, estou muito feliz que tenhas retomado as aulas de piano!!! =D Já há muito tempo que estudo diferentes tipos de mindfulness. O da comida me lembrou a cena do filme Into the Wild, em que o actor principal está comendo uma maçã e falando para ela, como ela está apetitosa e tal, completamente no momento de comer a maçã. A cena é simplesmente adorável!
    Também me surpreendi pois é algo que já faço ao natural, sem saber que tinha ligação com o Thich Nhat Hanh.

    Bom fim de semana!

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  4. Bom post. tem muitos pontos que previso de avaliar em mim. Obrigada :)

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  5. Olá! Faço banners (headers) para blog. Faço encomendas. Dá uma olhadinha em alguns modelos de banners na minha página: www.inovesuapagina.blogspot.com

    Desde já, agradeço sua atenção.

    Grande beijo.
    Amei seu blog!

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  6. Bom post Rita, não aproveito tão bem o tempo como tu, mas apesar de infelizmente estar desempregada. Aprendi a usar o meu tempo "livre", para por vezes não fazer nada ou simplesmente dedicar a mim mesma.
    Tenho dois filhos, sou casada, mas adoro fazer programa All by myself!!!! Ir ao cinema, ir ao shopping, ir ao jardim, andar de carro, andar de metro, andar a pé, almoçar, tento sempre é destinar um objectivo, um local novo, para adquirir conhecimento, "infelizmente" ou "felizmente" durante 8 anos de casada e 11 de namoro vivi muito em função dos outros, agora vivo mais em função de mim, porque a vida é minha, e eu quero ser feliz!...quando estou com a nóia, ou mais em baixo uso esta técnica e para mim resulta.

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  7. Tanto que já ouvi falar em budismo, mas agora, vá-se lá saber porquê, fiquei verdadeiramente curiosa e interessada. Já corri o seu blog de uma ponta a outra e adorei, que zen feeling me passou. Thanks a lot!!

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  8. Seu post me fez refletir Rita ... ando precisando exercitar minha atenção.

    sibellesampaio.blogspot.com.br

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Obrigada pelo comentário!

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