Isto pode parecer contraditório. Um minimalista que é uma pessoa ocupada?
Um dos objectivos do minimalismo não é eliminar tudo o que é supérfluo para nos focarmos no que é mais importante?
Mas e se o que é mais importante nos mantém extremamente ocupados?
A mim parece-me que os minimalistas têm o desejo de trabalhar menos, de preferência a partir de casa, de preferência a fazer aquilo que mais gostam - escrever parece ser a actividade preferida da maioria dos minimalistas que "conheço". Mas, lá está, eu conheço-os através dos seus blogs. Existem provavelmente muitos outros minimalistas que se focam noutras actividades.
Bem, eu sou cientista. Bióloga marinha, para ser exacta. E trabalho muito. Todos trabalhamos. Por várias razões. Como pós-docs (o nosso pomposo título), não temos um contrato de trabalho a sério. Temos que provar constantemente o nosso valor para que os contratos sejam renovados. E isso implica investigar, escrever, publicar bons artigos científicos. Muitas vezes, trabalhar 8 horas por dia não chega.
Mas o minimalismo ajudou-me a focar. Em vez de me envolver em vários projectos ao mesmo tempo, comecei a dizer não. Digo não a coisas que não valorizam o meu currículo. Acabei com o multitasking.
Tenho lutado para não estar sempre a verificar o email. A Terra não pára de girar se ficar uma hora sem ir ao facebook. E ler blogs ou escrever posts durante as horas de trabalho simplesmente não dá, tirando um bocadinho à hora de almoço ou em períodos pré-estabelecidos.
Mas então, um minimalista pode ser uma pessoa ocupada? Se eu estou ocupada a fazer uma coisa que adoro, por que não? Não é o objectivo do minimalismo eliminar o excesso e ter tempo para aquilo de que gosto? Bem, eu gosto de ciência e gosto do que faço. Trabalhar muito vem no job description. Adicionam-se duas crianças ao quadro e, sim, temos uma pessoa ocupada.
Mas como é que o minimalismo pode ajudar uma pessoa ocupada?
1) Menos tralha para atrapalhar o espaço de trabalho
Os meus espaços de trabalho, tanto em casa como na Universidade, são limpos e sem tralha. Na minha secretária na Univ tenho apenas o essencial: computador, impressora (que uso muito pouco), caneca para o chá, garrafa de água e papéis que preciso para o trabalho que estou a fazer no momento. Em casa tenho os portáteis e a máquina de costura. Já nem tenho a caneca com canetas e outro material de escrita - está tudo numa das gavetas da secretária.
Uma superfície arrumada e livre de tralha permite-me focar no trabalho, pois não vou procrastinar para limpar e organizar as coisas. Uma secretária sem tralha também evita distracções visuais e ajuda-me a focar no monitor do computador.
2) Começar a dizer "não"
Eliminar o excesso para me focar no mais importante também se aplica ao trabalho.
Há uns meses fui "forçada" a fazer parte da organização de um simpósio e fiquei super chateada por não ter conseguido dizer "não", pois a organização de um simpósio não interessa nada para o meu currículo. Depois despachei um aluno de mestrado que não aparecia - não sei se ele estava à espera que eu fizesse o trabalho por ele... Também sou alérgica a reuniões nos gabinetes. Reuniões com telefones a tocar, emails ligados e pessoas a bater à porta não são produtivas e recuso-me a perder tempo desta maneira - afinal, para alguma coisa existem salas de reuniões.
3) Acabar com o papel
A maior parte da papelada que temos não serve para nada. É tão simples quanto isso. Evito ao máximo imprimir seja o que for, jogo fora o que não interessa, digitalizo coisas mais importantes e guardo em papel apenas coisas muito, muito importantes, cujos originais em papel poderão ser necessários.
Agora estou a livrar-me das centenas de artigos científicos que tenho no gabinete. Aqueles que tenho também em pdf foram logo para a reciclagem. Os que não tenho em pdf ando a tirar da net e os que não consigo tirar da net, digitalizo. O meu objectivo é ter toda a minha literatura do trabalho em formato digital - e não ter nada em papel.
4) Mais foco
Ainda tenho que trabalhar mais nisto. Evitar, eliminar as distracções. Eu distraio-me muito facilmente com a internet... e não posso desligar o cabo pois preciso da net para procurar coisas do trabalho... Este mindmap ajuda. Estabelecer pequenas tarefas e usar programas que bloqueiam a internet também.
Percebo bem o que dizes, mas também acho que tudo o que é demais, torna a vida muito castradora... Talvez seja eu, ainda pouco preparada para tamanha diferença, mas sinto que´tal como deixar se conduzida sem qualquer controlo, algo assim é igualmente castrador, não?
ResponderEliminarCá estou eu, no reader novamente!
ResponderEliminarAmo ler seus posts. Eles entusiasmam e me fazem largar o reader!! heheh
Obrigada,
Camila - na luta diária contra a procrastinação.
Olá, Rita
ResponderEliminarParabéns pelo seu blogue. Já há algum tempo sigo as suas publicações e hoje tinha que comentar. Penso que o "minimalismo ocupado" não é de todo uma contradição no seu caso. Ocupada, envolvida em projectos, sim, mas não obrigatoriamente desnorteada ou desnecessariamente sobrecarregada.
Sinto o mesmo no que respeita à distracção com a internet...
Obrigada pela inspiração que tem sido no destralhe do "meu caminho"
Excellent points! Thanks for stopping by my blog. I'm enjoying browsing yours and the translation adds a fun twist to the posts :)
ResponderEliminarNão acho nada que seja contraditório. A questão é que os minimalistas ocupam-se com o que realmente interessa e que os faz felizes. Há objectivos mais concretos, talvez.
ResponderEliminarGostei muito desta frase que escreveste..."Uma superfície arrumada e livre de tralha permite-me focar no trabalho"... porque espelha bem a razão de andar a destralhar muitas coisas cá em casa. Sei que depois de o fazer de forma muito mais concentrada, irei ser muito mais produtiva em vários projectos que quero concretizar.
Bjs,
Anabela