16/10/2012

Amizade, desapego e felicidade

Uma escreve sobre desapego, minimalismo.

As duas decidiram misturar tudo e escrever sobre amizade.

Consegues adivinhar quem é quem?

...


Eu tenho poucos amigos. Amigos daqueles a quem posso telefonar a qualquer hora para desabafar qualquer coisa, só tenho um. Que, ainda por cima, está fisicamente longe. Os amigos têm vindo e ido ao longo dos anos. Os únicos amigos que sinto que vão ficar para toda a vida, mesmo que hoje em dia possamos estar 2 ou 3 anos sem nos vermos, são os amigos do tempo da escola, aqueles que conheço desde muito pequena. Podemos estar anos sem nos falarmos, mas quando estamos juntos, é como se o tempo não tivesse passado. 

Em relação ao amigos que fiz em adulta, a história é diferente. Umas amizades fizeram sentido numa dada altura, mas depois cada um vai para o seu lado, conhecem-se outras pessoas, ou simplesmente deixamos de ter coisas em comum - será que alguma vez tivemos? Eu ainda me esforçava para tentar recuperar estas amizades, mas apercebi-me que as amizades não têm que ser forçadas. O interesse ou está lá ou não está. Para quê perder uma ou duas horas num cafezinho com alguém que não adiciona nada à minha vida? Prefiro gastar essas horas com a família, com o trabalho, ou com outras actividades que me fazem feliz. 

Por outro lado, tenho vários conhecidos, sobretudo colegas de trabalho, com quem acho que poderia vir a desenvolver uma relação de amizade mais próxima. Mas como dar esse passo? Como passar de colega a amigo, se eu no trabalho não me perco em conversas de corredor ou em cafezinhos no bar? Já pensei fazer umas jantaradas cá em casa, mas introvertida e anti-social como sou, só de pensar nisso perco logo a vontade...

É verdade, há uma série de pessoas que eu gostava de ter mais presentes na minha vida. Estou a pensar especificamente em duas pessoas que já foram grandes amigos meus, mas lá está, a vida acontece e deixamos de nos cruzar. Por acaso, cruzei-me com um deles a semana passada. Boas lembranças, saudades dos momentos juntos, mas será que ainda existe ali alguma coisa que nos una? Sem tentar não sei, por isso vou empenhar-me para ver se essas antigas amizades ainda fazem sentido hoje. Outras dessas amizades sei bem que já não fazem sentido, por isso não vale a pena continuar a insistir em cafezinhos que nunca acontecem nem ir a jantar de anos que são um martírio. Já cheguei a ir a jantares de anos de um amigo, não pelo amigo aniversariante, mas pelas outras pessoas que também iam lá estar... Enfim... isto das amizades é uma área na qual devia investir mais do meu tempo, pois não há dúvida que os amigos, os verdadeiros amigos, aqueles que se contam pelos dedos de uma mão, arrancam-nos sempre um sorriso dos lábios. E isso é muito bom.

...


Quero acreditar que tenho atitudes que me facilitam a vida (claro que tenho outras em que me saboto, mas isso é outra história). E uma delas é a minha atitude em relação à amizade e que é tudo menos romântica. É essencialmente prática que é para não me complicar a vida.
Este texto é sobre amigos que passaram pela minha vida e que já não fazem parte dela. Não é um post sobre como manter amizades e relações. É sobre o desapego.

Dizem que o maior ‘boost’ de felicidade é-nos dado pelos amigos. Essa felicidade é maior se esses amigos já o forem há algum tempo. Se forem pessoas que nos acompanham desde sempre e com os quais as nossas memórias e experiências (boas ou más) estão bem guardadas e partilhadas.

Tenho poucos amigos. Muito poucos, mesmo. Acredito que não se pode ser amigo de toda a gente. E, como toda a gente, tenho imensos conhecidos. Depois tenho o ‘pessoal’ do meio. Aquelas pessoas com quem gosto muito de estar, que frequento mas a quem não vou ligar depois das 10 da noite.

O que é que eu sei sobre a amizade? Penso que as pessoas passam pelas nossas vidas com uma missão. E que depois permanecem o tempo que necessitamos e seguem as suas vidas. E quando seguem, é deixá-las ir - não cobro porque não ligam, porque não vamos tomar um café. Porque se eu já não fazemos grande coisa na vida deles (por isso mesmo é que deixaram de ligar), o inverso também (pode ser) é verdade.

Ligar porque tenho saudades, porque quero saber novidades e porque gostava mesmo muito de ir tomar um café como antigamente, sim! Sem cobrar! Porque se não houve uma zanga ou um motivo para as pessoas se separarem, então é porque é parte da vida. O Miguel Esteves Cardoso diz que os amigos devem ser escolhidos. Eu não poderia concordar mais com ele.


E aqueles que eliminei da minha vida mesmo a sério, porque eram tóxicos, porque ocupavam demasiado tempo e gostavam muito de cenas de novelas mexicanas, não lhes sinto a falta. Olho para eles e digo que um de nós, ou até os dois, não encaixávamos ali, naquela amizade. Porque simplesmente somos e temos expectativas diferentes. E a vida é mesmo assim: não dá para agradar a deus e ao diabo ao mesmo tempo. É possível que nos reencontremos daqui a uns tempos e tenhamos evoluído. E se nesse momento a relação for possível, óptimo! Se não for possível, não faz mal.


Até porque não é possível ser amigo de toda a gente, a todo o momento, e para o resto da vida. Porque eu acredito que é saudável chutarmos para canto amizades tóxicas, como qualquer outra coisa que não nos faça bem. Há pessoas que estiveram muitos anos nas nossas vidas e, de repente, percebemos que já não falamos com elas há um ano. Não por nada em especial, apenas porque a vida é mesmo assim.

Se vou cobrar? Era mesmo só o que me faltava. A mim e ao outro que tem, com certeza, mais que fazer… Mas se calhar vou ligar a dizer que tenho saudades e que quero ir tomar um café. E isso faz toda a diferença!

23 comentários:

  1. Foi bom para ti, Rita? Para mim foi muito bom... ahahahha!
    Vamos ver se o pessoal adivinha :)
    Beijinhos!

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    Respostas
    1. Acho que é fácil adivinhar... mas vamos ver...

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    2. Helena Santos Silva16/10/12, 10:03

      Olá Rita (e Magda): antes de mais, obrigada pelo vosso cantinho q nos inspira diariamente... Vou arriscar: o primeiro tx é da Magda, o segundo da Rita... Bjs e continuem desse lado :)

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  2. Eu acho que não adivinho eheheheh (por acaso associei logo quem era a parceira :))

    Estas vossas palavras hoje são muito pessoais para mim. Sobretudo porque a vida rapidamente me levou a sair da minha cidade natal, afincando o desapego de amizades especiais que não conseguimos controlar (nem mais eu poderia cobrar) à distancia. E na cidade onde vivo agora, apesar dos anos que já passaram ainda sou meio intrusa, é um lugar de círculos mais fechados apesar de me receberem muito bem.

    Me prendo muito hoje em dia para preencher essa lacuna de amizade que sinto na minha vida. Sempre sinto q são raras as pessoas que não sabem guardar segredos, ficar caladas, quietas, respeitar o amigo. E nem por acaso antes de ler este artigo, li o post do blog Be more with less, utilizando a expressão "from lonely to lovely" :)

    Achei lindissimo Rita que fizesses esta relação ao desapego de algo tão emocional e pessoal no teu blog sobre minimalismo. Parabéns à colaboração das duas.

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  3. Gosto de saber que tenho a melhor amiga do mundo, a minha irmã gémea. Dou graças a deus por ter ainda duas boas amigas. :)

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  4. Eu não sei quem escreveu o quê, só sei que o que escreveram as duas tem imenso sentido na minha vida e na atitude que tomo perante a palavra amizade.
    Adorei a expressão "amigos tóxicos". Eu tento livrar-me deles como o diabo da cruz porque me sugam as energias. Já lá vai o tempo em que insistia em coisas que me faziam mal. Além disso não forço amizades. Talvez por isso tenha menos que poucos.
    Beijinhos e obrigada pela partilha.

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  5. aparentemente
    Mum's the boss e the busy woman and the stripy cat

    mas, também posso estar enganada
    bom dia :)

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  6. Parece que já li isto em algum lado!!! :)

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  7. Não faço ideia quem escreveu os textos, mas identifico-me com ambas posturas: tenho poucos amigos mas tenho muitos (até demais, 'travail oblige!) conhecidos; amizades na idade adulta é difícil, porque vivemos na era das relações instantâneas... mas também não me interessa ter gente na minha vida que não aporta nada de bom ou positivo - sempre fui selectiva, e com a idade sou ainda mais, menos é mais!

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  8. Bem... serei a primeira a comentar??!
    Sigo os dois blogues... mas nunca, nunca comento. Hoje e excepcao..pois o tema "toca-me" e posso dizer que concordo e revejo-me com os dois textos!Tambem estou longe de todos( Amigos- com A grande, familia etc).
    Agora a tentar adivinhar... a 2a parte e da Rita e a outra da Mum. Sera?? ou estou taoooo enganada :)
    Obrigado as duas pelas partilhas e ate mesmo ensinamentos!
    Vania

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  9. Sinceramente acho que o primeiro texto é teu e o segundo da Mum! Mas posso estar mesmo muito enganada... estou curiosa!

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  10. Não diria melhor Rita. Este texto chegou até mim na altura certa ;)
    Obrigada.

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  11. Olá Rita, obrigada pelo post veio mesmo no tempo certo, estava muito triste com a idéia de uma amiga ter simplesmente sumido, mas com o seu post pude avaliar melhor a situação e ver que nem me faz falta assim
    . bjus

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  12. Eu vou arriscar... Acho que o primeiro é o da Rita, e o segundo da Mum's the boss.

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  13. Que texto maravilhoso! Sou nova por aqui, então não conheço bem as escritoras, mas com certeza ler o que vocês escreveram foi muito importante para mim, alimenta minha fé sobre as amizades, o meu conceito sobre as mesmas. Isso sim é que é uma amizade saudável!

    Grande beijo e parabéns!

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  14. Oi! Adorei o texto!

    É exatamente o que se passa comigo. E, pelo visto, com a maioria das pessoas... Acho que o primeiro texto é o da Rita.

    Obrigada por todas as dicas e mensagens que partilhas em teu blog!

    Um abraço

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  15. Eu estava mesmo a precisar de ler algo assim. Tive umas desilusões com amigos, uns afastamentos... e precisava que alguém me lembrasse que a vida é mesmo assim, as pessoas entram e saem da nossa vida. Muito obrigada :)
    Vou "roubar" para o meu blog, pode ser?

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  16. Gostei do texto. Eu não mendigo amizades nem faço pressão para as manter, porque para mim ou são naturais porque se mantêm, apesar do tempo, da distância e das vidas que se levam, ou não vale a pena. Não sou daquelas pessoas do vamos lá beber um cafézinho só pq somos amigos, nem de jantaradas,mas as pessoas que me conhecem bem sabem que podem contar comigo se precisarem. Se acham que para manter uma amizade é preciso fazer jantaradas e coisas assim em que se fala de tudo e mais alguma coisa e no fim não se espreme nada...não contem comigo.

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  17. olá Rita
    Desta vez não pude deixar de comentar. Muito libertador. Identifico-me imenso. Penso que o primeiro é teu e o segundo da Magda. Mas está de tal forma interessante que também é possível ser o inverso.
    Bela ideia ainda para mais se se divertiram

    Obrigada pela partilha
    Ana

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  18. Primeiro da Rita e segundo da Mum :)
    Pessoalmente, identifico-me a minha visão de amizade está muito mais próxima com o primeiro texto (Rita?).

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  19. Olá!
    Sigo os dois blogs, embora o da Rita já siga a muito tempo mas nunca tinha comentado.
    Eu revi-me nos dois textos.
    Acho que o primeiro é da Rita e o segundo da Mum.
    Beijos para as duas.

    Lili (http://vidali.blogs.sapo.pt/)

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  20. Acho que o segundo é teu. Se não é meu!
    Eu penso assim. Sem tirar nem pôr.

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Obrigada pelo comentário!

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