Se há assunto que eu não costumo abordar aqui é a crise. Por vários motivos, mas sobretudo porque já me enjoa ser constantemente bombardeada, na TV, na rádio, nos jornais ou na internet, por este assunto. A verdade é que eu e os outros bolseiros de investigação cientifica - as pessoas em Portugal com mais habilitações académicas, as pessoas que fazem a Ciência portuguesa - vivemos em crise desde sempre. O que ganhamos não é actualizado há 10 anos, por isso podem imaginar a nossa perda de poder de compra. Nunca tivemos direito a subsídios de férias e de Natal. Nem sequer temos direito a subsídio de desemprego. Os cientistas em Portugal sempre foram trabalhadores precários, por isso esta coisa da crise a mim passa-me ao lado.
Mas vem isto a propósito de uma reportagem que vi no fim de semana sobre uma família que vivia acima da média e agora está muito mal. Pagam quase 800 euros por mês da casa e sobra pouco menos de 500 euros para as outras despesas. O casal só já come sopa ao jantar, de modo a que a comida boa fique para os três filhos, e têm medo de algum dia terem que recorrer ao banco alimentar. Queixam-se da perda de subsídios, pois era com eles que pagavam muitas despesas. Pelas imagens que mostraram na reportagem, ou vivem numa moradia ou num duplex de luxo. What the f...?
Fiquei chocada, mesmo. A crise pelos vistos é imensa, mas nem pensar em mudar para uma casa mais modesta (e falo no geral, não especificamente no caso do casal da reportagem, a quem tiro o chapéu por terem tido coragem de se exporem na televisão). Isto é uma coisa que me dá a volta à cabeça e que infelizmente está tão presente na mentalidade dos portugueses - ter mais e melhor que o vizinho do lado. Não interessa se já não há comida para pôr na mesa, desde que continue a morar na minha vivenda para manter as aparências.
Ainda por cima, viver numa casa mais pequena tem inúmeras vantagens!
PS - Antes que comecem a chover comentários parvos (que não serão publicados), eu sei que está difícil vender casas, mas não é impossível, e com paciência as casas até se conseguem vender por um valor justo - e eu sei isto por experiência própria. O que me refiro acima, que me choca, é as pessoas nem sequer pensarem nessa possibilidade de trocar de casa ou de carro; preferem cortar em coisas como a comida... isto eu não consigo perceber.
PS - Antes que comecem a chover comentários parvos (que não serão publicados), eu sei que está difícil vender casas, mas não é impossível, e com paciência as casas até se conseguem vender por um valor justo - e eu sei isto por experiência própria. O que me refiro acima, que me choca, é as pessoas nem sequer pensarem nessa possibilidade de trocar de casa ou de carro; preferem cortar em coisas como a comida... isto eu não consigo perceber.
Sabes que a mudança de casa não é assim tão fácil. Principalmente quando a compraste há meia duzia de anos, deves quase tudo ao banco, ninguém compra e as avaliações baixaram brutalmente. Eu, casada, com uma filha e dois cães, com dois ordenados razoaveis, estamos na eminência de voltar para o nosso T1 - mais minimalista é impossível ehehe - porque não o conseguimos vender (e o arrendamento anda instável, a pessoa sai e entra em menos de nada e já só paga mesmo o equivalente à prestação) e não conseguimos ter a prestação da casa comprada quando há uns anos fomos morar juntos (nunca comprem t1's!!) + do arrendamento do t2/t3. Mesmo para os ricos, a crise chega, quando começam a tirar os filhos das actividades, a perder as empregadas, a vender um dos carros, a limitar as passeatas e as jantaradas. Se é possível viver assim, sem nada? Claro que sim, o importante é o amor, a família, o sorriso duma criança apenas porque vai correr para o jardim e apanhar pedrinhas, mas se é triste baixar o nivel de vida e a qualidade porque a crise toca a todos? Obvio. E acho que já chega das pessoas dizerem "isto não toca os ricos, é sempre aos pobres, blablabla", porque é uma valente mentira. Bjs (sim, a crise é um tema sensível)
ResponderEliminarFoi o que eu fiz. Tive a sorte de conseguir vender uma casa perto de Lisboa ( T5) e mudei me para um T3 em Mafra. Não compro mais casas, porque acho que é neste momento um péssimo investimento. Conseguir reduzir em muito as despesas, porque deixei de ir ás grandes superfícies e obtei pelos produtores locais, deixei de tomar café fora e dei e vendi muita coisa que não me fazia falta. Optei também por ter um só carro, e andar a pé e de transportes públicos sempre que possível. Felizmente não estamos em crise, mas não se sabe o dia de amanhã. E sim, um sorriso vale mais que uma jantarada, ou mesmo uma casa super decorada:)
ResponderEliminarQual o nome dessa reportagem? Gostava de ver.
ResponderEliminarEu mudei de um t3 para um t2 mas como mudei de cidade e um e do banco e o outro alugado, pago um pouco mais pelo alugado que e mais pequeno...1 quarto a menos nas arrumações faz toda a diferença, também mudei de cidade para poupar mas certas despesas, mas despesas tais como Infantario, deslocações, etc.etc são maiores aqui....como e obvio consigo poupar,mas se não estivesse desempregada vivia melhor...o que quero dizer com isto e que as vezes a mudança de casa por si só não e suficiente e preciso uma mudança de mentalidade!
ResponderEliminarPercebo o que queres dizer...
ResponderEliminarO problema destas reportagens é que só vemos o que nos querem mostrar!
Não sabemos se eles já pensaram ou não em vender a casa, não sabemos se continuam a ter carros...
Ou seja, no fundo não se fica a saber nada!
É verdade Rita. As pessoas não estão preparadas para perder o orgulho! Preferem perdem a comida na mesa porque não é tão perceptível aos olhos dos outros! É triste, mas é verdade.
ResponderEliminarVejo as pessoas fazerem vidas acima das suas possibilidades. Vidas que se nota perfeitamente que nada têm a ver com a pessoa e o meio onde nasceu, simplesmente porque acham que serão mais felizes exibindo o que têm, aos outros.
o problema de vender a casa, é que na maioria dos casos vendes a casa e ainda ficas a dever ao banco, por isso ninguem consegue vender assim...e não é preciso viver numa moradia nem num apartamento de luxo. durante três anos tivémos o nosso apartamento à venda (e isto já foi muito antes da "crise") e pelo valor do mercado vendiamos e ainda ficávamos a dever ao banco...é triste mas é assim! uma coisa que gostava de ainda comentar, é que é impossivel uma reportagem de 5 minutos dar a conhecer a realidade de uma pessoa (neste caso daquela familia). Por mim falo, que recebi alguns comentarios maldosos por ter uma Bimby...as pessoas lá sabem se foi oferecida ou se a comprei em tempos mais afortunados?
ResponderEliminaro trocar de carro, só funciona se o mesmo ainda não estiver pago, caso contrario nem vale a pena (mas conheço quem tenha posto o carro na garagem e "investido" numa moto para poupar nas deslocações).
acho que não está mesmo fácil para familias da dita classe média, porque as mais carenciadas continuam a receber apoios, e os mais endinheirados continuam a ter rendimentos, nós que estamos no meio, pagamos mais impostos, nao temos direito a subsidios nem a abonos, nem a vagas de infantários públicos, temos de trabalhar mais (e descontar mais)...
quero acreditar que com esta situação se aprenda alguma coisa, mais não seja a superar as contrariedades, mas é revoltante trabalhar tanto e pouco (ou nada) sobrar ao fim do mês...:(
Concordo em absoluto com o que dizes, Rita. Uma parte considerável das pessoas não sabe ajustar-se a esta nova realidade. Se custa ver o nosso trabalho mal remunerado? Claro que custa! Se custa não termos trabalho, dinheiro ao fim do mês, baixar o nível de vida? Õbvio! Mas a alternativa, neste momento, passa por mudar a forma de estar e de viver a nossa vida, alem da possivel intervenção social. Se não o fizermos em consciência vamos passar os dias a lamentarmo-nos, revoltados e deprimidos, de mal com a vida e com as pessoas, incapazes de aproveitar as coisas boas que todos os dias existem. Achamos sempre muito inspirador quando ouvimos histórias de alguém doente ou com um familiar doente que luta diaria e incansavelmente pela sua qualidade de vida e a doença também não é culpa do doente (no sentido em que ninguem escolhe deliberadamente ficar doente), tal comnm dizemos que a crise não é culpa nossa. Pois. então. este será o momento de agirmos tal e qual como quem nos inspira, de seguirmos um exemplo. Por nós. :)
ResponderEliminarOlá Rita!
ResponderEliminarSou precisamente da mesma opinião. Uma vez via uma reportagem do género em que fizeram as contas ao que tinham de pagar e muito pouco sobrava mas a mensalidade da Tv cabo, pacote máximo, não era dispensada...
Existe de tudo. Pessoas que sempre viveram com o pezinho em cima do limiar da pobreza e que, com a crise, descem uns degraus e ficam mesmo a viver abaixo desse limiar. Assim como existem, os que sempre viveram na ostentação. Uma ostentação que não passa de uma ilusão e de uma grande mentira. Depois, num momento de fragilidade não há como suportar todas as despesas. Temos muitos financeiros que editaram livros para nos ajudarem a entender e gerir melhor a nossa realidade financeira, mas deixo um link super pratico e, na minha opinião, extremamente elucidativo. Afinal, não tem mal termos pior carro que o nosso vizinho!
ResponderEliminarhttp://tenpeorcochequetuvecino.com/
Bom dia, Rita! A este propósito, uma especialista que vai ao programa da manhã da SIC (não me recordo agora do nome dela, mas gosto mesmo muito de a ouvir), já disse, e muito bem, a meu ver, que nestes casos em que a prestação da casa se torna um peso incomportável, a pôr em risco a sobrevivência, porque não entregá-la ao banco e mudar para uma casa arrendada? Sabemos que é difícil as pessoas desapegarem-se da sua casa, mas se é a sobrevivência que está em causa, não valerá a pena? Provavelmente, até se conseguirá um apartamento num local onde não seja tão necessário o uso do automóvel...
ResponderEliminarConcordo com essa possibilidade da entrega ao banco, mas descobri recentemente que isso não é assim tão fácil :( Parece que com a entrega da casa ao banco são feitas umas contas que nos colocam na posição em que não só ficamos sem casa como ainda continuamos a ter que pagar ao banco por qualquer coisa. Infelizmente não sei muito bem como se processa, mas infelizmente é assim.
EliminarTambém tentei entregar a minha casa ao banco mas foi recusado pelo simples facto de, no contrato, ter fiadores. Só depois dos fiadores provarem que não podiam pagar - e felizmente podem mas, obviamente, que não têm essa obrigação - é que aceitavam. E depois há sempre a questão do valor avaliado.
EliminarConcordo totalmente com o que disse Rita!Há uns tempos atrás também vi uma reportagem sobre um senhor que também ficou desempregado e que estava a viver com imensas dificuldades, no entanto, tinha uma moradia gigante e andava de Mercedes, enfim....
ResponderEliminarPois... eu entregava, com todo o gosto, uma casa que comprei em 2008 e que não estou a conseguir vender mesmo abaixo do valor dela... Só que os bancos, neste momento, não a aceitam... esperemos que com a mudança da legislação esse processo venha a ser simplificado...
ResponderEliminarMas não é para isso que serve a hipoteca? Alguma coisa não bate certo!
EliminarBom dia,
ResponderEliminareu também vi essa reportagem e também me saltou à vista a casa em que o casal vive.
De qualquer maneira tive o pensamento contrário ao da Rita. "Agora estão presos a uma casa daquelas que lhes custa 800€ por mês sem terem muito bem como fugir dela".
O senhor era gerente de uma empresa e provávelmente compraram a casa em tempos de "vacas menos magras". Agora que perdeu a empresa e é empregado de escritório, lá têm que manter a casa.
Analisando as hipóteses que se colocam (tendo por base apenas o exposto na reportagem claro):
- manter a casa e viver com muito menos conforto - opção deles
- tentar vender a casa (podem tentar, mas os problemas que se colocam são: se naquela altura que a compraram com spreads ao preço da chuva pagam uma renda de 800€, neste momento seria quase o dobro, ñ deve haver muita gente a querer. Depois há a questão do valor em dívida que deve ser praticamente o da compra da casa se não for superior, ou seja mesmo que vendam por um preço simpático provavelmente ainda teriam que pedir dinheiro para pagar o resto do empréstimo.
- também podiam alugar a casa, só não sei se há pessoas a querer pagar 800/900€ de renda. Além de que bastava terem a casa 1 mês por arrendar que ganhavam um despesa extra, provavelmente sem condições de a pagar.
Não estou a fazer nenhuma crítica à Rita porque entendo perfeitamente a sua posição, mas com algumas coisas que tenho visto, aprendi a ver o outro lado da questão.
Eu já pensei algo do género e tenho um simples T3, mas qualquer casa de quase metade do valor da minha me custaria mais caro mensalmente, além de ter que dar dinheiro ao banco que não conseguiria ir buscar com o valor de venda. Há situações em que mais vale estar quieto hehe
Agora aproveito para lhe dar os parabéns pelo blog que adoro e que me tem incentivado a desfazer-me de coisas que não me fazem falta. Ainda ando em estágio hehe mas espero conseguir expulsar muitas mais coisas cá de casa. O meu sonho é demorar 1h a limpar a casa toda, quem me dera, eu que levo umas 4 :( não ajuda o facto de ser um bocado lenta lol mas estou a lutar para melhorar.
Um beijinho que isto já vai longo
Concordo com o que dizes. E ainda há as pessoas que arrendam casa com valores altos mesmo que tenham dificuldades em pagar a renda.
ResponderEliminarEm relação a vender a casa, para quem tem empréstimos ao banco não é fácil pois neste momento as ofertas são tão baixas que os bancos não autorizam a sua venda.
O problema está no antes: decidir comprar uma casa / apartamento cuja mensalidade se consegue pagar, mas só se nenhum dos salários que entra "em casa" desça 1 euro que seja. É o chamado dar o passo maior do que a perna. Basta um "se" dar para o torto e deixa de se conseguir pagar a casa... Se um ficar desempregado, se um tiver um corte salarial, se surgir uma (grande) despesa extra, se as taxas de juro subirem, se.... e por aí fora. Neste momento, os imóveis desvalorizaram imenso e acredito que esse casal esteja a viver esse problema: vender não resolve porque o valor conseguido na venda não chegaria para pagar a dívida ao banco, e se pagar a prestação agora já é difícil, ter de pagar a prestação *mais* uma nova renda seria impossível. Ou seja, estão presos nesta difícil situação...
ResponderEliminarEu vi isto numa rede social, não faço ideia se é verdade.Mas deixo aqui pois se for verdade pode ser solução.
ResponderEliminarhttp://forumdacasa.com/discussion/23407/tera-isto-algum-fundo-de-verdade-arrendamento-de-casas-hipotecadas/
"Se você estiver em perigo de perder o seu apartamento por não poder pagar a hipoteca, existe uma solução completamente legal: O Aluguer do apartamento a um membro da família (que não conste na hipoteca) por um preço simbólico de 1 ou 5 € por mês por 100 anos e registe o contrato no registo Predial. O banco pode ficar com a casa, mas não pode desalojar o inquilino devido a este contrato e você só vai pagar o aluguer mensal simbólico. É totalmente legal".
relativamente ao post anterior estive a ver sobre a possibilidade de arrendar casa para não ser entregue ao banco e no próprio link que referi vi que isso não é possível. Assim sendo o que corre nas redes sociais não está coreecto. oBRIGADO.
ResponderEliminarhttp://forumdacasa.com/discussion/23407/tera-isto-algum-fundo-de-verdade-arrendamento-de-casas-hipotecadas/
Se tivesse um empréstimo agora passava-me. comprei um T2 e temos 1 miuda. claro que gostava de ter um espaço para ter um escritorio mas vendo bem as coisas não é essencial e não vale o dinheiro que iria pagar a mais. o que paguei pelo meu t2 é agora o valor que pedem por um t3! desvalorizou isto tudo e percebemos como o construtor estava a ganhar tanto na altura em que comprei o meu apartamento. e ter um emprestimo por 40 anos, a vida toda? e no fim pagar o dobro do que custa a casa não é demais? estas regras só servem um dos lados..devem ser mudadas para, de forma justa, servirem tanto bancos, comprador e construtor. Tudo o que é especulação deve ser evitado,não interessa viver assim.
ResponderEliminarPercebo o que a Rita escreve mas concordo com o que muitas meninas disseram! Às tantas seria pior a emenda que o soneto! :( Sinceramente fico triste com situações assim, acho que cada um gasta consoante o que ganha e é normal que numa altura que a vida corria bem (e que não se previa tamanha crise)tivessem investido num maior conforto.
ResponderEliminarEu também comprei um terreno em 2009 com a ideia de construir casa pertinho da casa dos meus pais (tenho um T3 noutro concelho que aluguei e estou provisoriamente a viver com os meus pais), agora com a crise e spreads de loucos seria suicídio começar a construir. Por isso não vamos construir e vamos voltar para o nosso apartamento, embora seja noutro concelho... mas damos graças a Deus de ter opção e dessa opção ainda ser sustentável.
ah, e claro que a última coisa em que corto é na comida! só no desespero final é que iria começar a racionar comida ainda mais tendo uma criança.
ResponderEliminarA verdade é que as minhas despesas já são bastante minimalistas e depois de conhecer alguns sites percebi que esse era o caminho (do minimalismo) para mim e para a minha família.
Boa tarde Rita!
ResponderEliminarQuanto ao tema em discussão, ou seja: "o modo como cada pessoa, em cada momento, vive a sua vida ", penso que faz parte de um debate que não necessita da minha participação.
A minha questão relaciona-se apenas com uma afirmação da Rita, no seu comentário de hoje, afirmação essa que não surge pela primeira vez neste blogue e que sempre me surpreende, vinda de uma pessoa pertencente ao meio ciêntífico e consequentemente conhecedora do mesmo. E a minha questão é a seguinte: Porque razão afirma a Rita que os bolseiros de investigação ciêntífica são as pessoas com mais habilitações académicas em Portugal, assim como que são eles quem faz a ciência portuguesa?
Tenho a certeza que as suas razões para fazer tais afirmções são mais do que legítimas, mas confesso a minha ignorância acerca dessas mesmas razões, pois a sensação com que fico ao ler as suas palavras é a de que ninguém em Portugal possui tantas habilitações académicas como os bolseiros de investigação ciêntífica e que as únicas pessoas a fazerem ciência em Portugal são os bolseiros de investigação ciêntífica, e isto Rita posso dizer-lhe, de fonte muito segura, que não é verdade.
Um óptimo dia.
Rosália Moreira
Rosália,
Eliminartenho que fazer um post mais detalhado sobre este assunto, pois a maioria das pessoas nem sabe o que é um "bolseiro de investigação científica".
A ciência faz-se basicamente em 2 sítios: nas universidades e nos laboratórios do estado. Nas universidades há os professores universitários e nos labs do estado há os investigadores, todos funcionários públicos (no caso de univs públicas, claro). Tanto os professores como os investigadores têm o seu grupo de investigação, constituído por várias pessoas. São essas pessoas que fazem o grosso da investigação científica, que estão nos laboratórios, que escrevem artigos científicos, pois tanto os professores como os investigadores têm demasiadas outras tarefas, como actividades de docência e gestão, não lhes sobrando muito tempo para outras coisas, infelizmente. Essas pessoas que pertencem aos grupos de investigação dos professores ou investigadores são, oficialmente, "bolseiros". Na prática, claro que são investigadores, mas não estão na carreira de investigação científica nem na carreira de docência universitária (porque não há vagas e muito menos concursos). O nome bolseiro é infeliz e muita gente confunde esta situação com os estudantes com carências económicas, que não tem nada a ver. Dentro dos bolseiros há várias categorias: bolseiros de pós-doutoramentos, bolseiros de doutoramento, bolseiros de projectos, etc. As habilitações destas pessoas vão desde o licenciado ao doutorado. O doutoramento é o mais alto grau académico e, geralmente, só o faz quem quer seguir esta vida. Portanto, onde se encontram as pessoas com mais habilitações académicas, ou seja, com doutoramento, é nas universidades e laboratórios do estado (os professores e investigadores também têm que ter doutoramento). Claro que outras pessoas em Portugal têm as mesmas habilitações académicas que eu (doutoramento), como o presidente da república, mas ele próprio é professor universitário.
Portanto, sim, os bolseiros, a par dos professores universitários e investigadores dos labs do estado, são as pessoas com mais habilitações académicas, mas é uma coisa obrigatória para a profissão. E sim, a maioria da investigação é feita pelos bolseiros (sobretudo pos-docs como eu e alunos de doutoramento). E isto eu também sei de fonte segura, pois é neste mundo que eu trabalho há mais de 10 anos.
Talvez eu não tenha percebido bem a sua questão, mas este é um assunto do qual eu gosto de falar, por isso se tiver mais dúvidas, diga!
Olá, outra vez, Rita!
EliminarComeço por agradecer a prontidão da resposta.
Estamos a chegar a qualquer lado, pois a Rita já fala de escrever um comentário sobre o tema.
E nesta resposta que me deu também já fala, não de todos, mas de muitos outros profissionais que fazem ciência em Portugal, para além dos bolseiros de investigação. E isso também é bom.
Permita que lamente o facto de que em 10 anos de trabalho, no campo da investigação ciêntifica, tenha apenas passado por locais onde a investigação é feita na maioria pelos bolseiros. Na minha opinião é uma situação extremamente perigosa, pois a partir de uma determinada altura ficamos em risco de perder a visão global, da realidade da investigação ciêntífica em Portugal, e começarmos a extrapolar a realidade do grupo em que estamos inseridos para caracterizar o todo. Dos grupos de investigação que conheço (na área da Biologia, Química, Física e Informática) apenas alguns, dois penso eu, funcionam como os que referiu: em que o Professor-Investigador ou Investigador, por esta ou aquela razão, tem apenas o papel de docente universitário e gestor. A grande maioria, dos que conheço, tem um ou dois bolseiros e vários professores-investigadores, que acumulam a docência e gestão com uma investigação apaixonada e frutuosa. Espero que um dia a Rita possa ter o privilégio de trabalhar num grupo onde o líder, professor ou investigador, através do seu exemplo e trabalho seja uma verdadeira inspiração para todos.
Um bom final de tarde e uma noite descansada.
Rosália
O problema dos professores nas universidades que conheço melhor (Algarve e FCUL) é a excessiva carga horária de aulas, que não deixa tempo para muito mais. Mas claro que eles participam na investigação! Escrevem projectos, orientam alunos, etc. A parte prática propriamente dita, o estar no laboratório com as mãos na massa, isso muito poucos fazem. As duas professoras do meu grupo de vez em quando vão lá ao lab ajudar-nos, quando temos muito trabalho, mas não vão fazer a sua própria investigação. Mas essa também é a função dos professores: orientar alunos e investigadores mais novos. Mas se não houvesse bolseiros nos grupos, a investigação não se fazia, isso lhe garanto, ainda por cima em áreas como a minha que implicam muito trabalho de laboratório e de campo. Os professores, infelizmente, não têm tempo para isso, tão sobrecarregados que estão com aulas e gestão universitária. E nas universidades já não existe a carreira de investigação científica, como existe nos laboratórios do estado... Portanto, quem fica encarregue da investigação são os bolseiros, sobretudo os posdocs. É por isso que os bolseiros se queixam tanto e lutam por melhores condições de trabalho - sem eles, a maior parte da investigação científica parava (na minha universidade, não só no meu grupo, garanto-lhe que parava mesmo!).
EliminarO orgulho fala mais alto neste pequeno rectângulo. Muitos recusam abdicar de pequenas mordomias e passam fome. Deparo-me diariamente com pessoas que fazem uma refeição por dia, mas têm um telemóvel xpto e unhas de gel.
ResponderEliminarSendo o blogue da Rita sobre minimalismo, uma das minhas regras é ter muito menos, mas o que tenho tem que ser muito bom e de preferência durável.
Oi!
ResponderEliminarAcredito que também esteja difícil vender a casa, afinal, em tempos de crise ela seria vendida por um preço inferior ao que vale.
Espero não ter dito besteira, pois sou brasileira e no momento não estamos em crise. Mas, durante muito tempo vivemos com facas sobre nossa cabeça! Má distribuição de renda, desemprego, etc, agora estamos melhor , mas, isso não significa que podemos viver um revés e tudo mudar.
Sou professora e no Brasil é uma profissão muito mal paga, para você ter uma noção meu salário equivale à € 694.86 (R$1832,32) e é considerado um bom salário.
Desculpe por algum inconveniente, bjus
Fabiana
pensei exactamente o mesmo quando vi a reportagem...e ninguem ainda o tinha conseguido verbalizar como a Rita o fez!
ResponderEliminarFico surpresa quando ouço que em Portugal a área acadêmica não seja tão interessante financeiramente. Meus colegas que seguiram esta área no Brasil vivem muito bem, principalmente aqueles com doutorado. Professor pesquisador por aqui ganha cerca de 10 mil reais, isso se ele não tiver outras atividades, tais como: palestras, publicações etc. Este é um salário e tanto no Brasil, principalmente se a pessoa viver em cidades menores (onde a maioria das universidades estão).
ResponderEliminarAqui os professores universitários também ganham bem. O problema é que não há mais vagas para professores na maioria das universidades. Onde eu trabalho, os professores mais novos já estão nos 40 e muitos anos. Os doutorados mais novos, como eu, são bolseiros de investigação científica, mas ganhamos muito menos e temos menos regalias que um professor com as mesmas habilitações...
EliminarQuanto às aparências: ao surgir nos EUA a crise imobiliária vi (num Oprah Winfrey) as estratégias que pessoas da classe média (pelas casas e rendimentos em Portugal seria média-alta) estavam a adoptar para ultrapassar a situação. A partilha de casa, por exemplo, era uma das soluções encontradas e ninguém/nenhuma família se sentia vexada por estar a abrir as portas a outra pessoa/família (consoante o espaço disponível) e partilhar despesas. Aqui seria impensável, claro.
ResponderEliminarSobre a venda de casas... não sei como está em Lisboa e arredores, mas aqui onde vivo (Valongo, onde os acessos passaram a ser portajados) eu posso dizer como está: péssimo. Há vários apartamentos no "bairro" onde vivo à venda há 2 anos ou mais e não se vendem, apesar de estarem com preços bem abaixo dos que eram praticados quando para aqui vim morar (há 5 anos). Se eu pusesse o meu à venda pelo valor da dívida que ainda tenho ao banco, poderia esperar sentada por um comprador. Felizmente tivemos o bom senso de escolher um apartamento cuja prestação estava dentro do razoável e hoje, com a taxa de juro a baixar, pagamos muito menos do que pagaríamos em renda por um apartamento bem menor.
ResponderEliminarPortanto Rita, e não leve a mal, mas não assuma conhecer *toda* a realidade de *todo* o país, tomando como amostra apenas o que conhece à sua volta...
Sandra, onde é que leu que eu conheço toda a realidade de todo o país? Acho que é óbvio que a experiência que tive nos últimos meses de compra e venda de casas não foi no país inteiro! Ou era preciso eu ter referido isso para se entender?
EliminarTal como escrevi e volto a escrever, eu sei que está difícil vender casas, mas não é impossível (pelo menos no Algarve e em Oeiras, que é a amostra que tenho à minha volta).
Fiquei um tanto impressionada com seu post. Acredito que a população de países europeus não estão acostumados a viver momentos de escassez. Viver com estabilidade econômica e possibilidades de compra de moradia financiada a longo prazo, realizar contas a pagar contando com subsídios e tudo mais faz parte de um cenário de abundância. Aqui no Brasil, passamos por muitos momentos de recessão e crise econômica. É a primeira vez em uns 20 anos, que conseguimos um poder de compra maior, que dá a possibilidade de termos acesso à bens e serviços antes reservados aos mais ricos. Assim, momentos de "vacas magras" não assustam tanto quem já está acostumado a roer os ossos.
ResponderEliminarQuanto ao assunto acadêmico, um bolsista de pesquisa, aqui é um aluno de pós-graduação e que recebe um soldo sem impostos. Varia de 1300 reais, cerca de 490 euros para mestrado, 2000 reais para doutorado (+-760 euros), e pós-doutorado em torno de 3700 reais (quase 1400 euros) um aluguel próximo à universidade custa em torno de 500 reais na maioria das cidades. É uma renda considerada baixa, somente um pós-doutorando fica mais próximo de um professor de primeiro nível (faltam concursos em muitas áreas também), mas é livre de impostos e pelo lado ruim, não é possível obter nenhuma vantagem junto aos bancos, você continua sendo considerado estudante, assim, não tem acesso à linhas de crédito ou financiamento.