05/03/2013

Observar e imaginar

Eu nunca fui muito criativa. Mas sempre tive uma boa imaginação. E sempre fui muito observadora (característica essencial para qualquer cientista) e quando falo em observação, não é só com os olhos. É usar os cinco sentidos para observar o que nos rodeia. Ouvir as ondas a rebentar, cheirar o perfurme das flores, saborear um chocolate, sentir a areia quente nos pés e olhar as pessoas à minha volta.

Sempre gostei de observar as pessoas. Gosto de estar na praia a ver as pessoas que passam à beira-mar nas suas caminhadas. Em Lisboa, gosto de observar as pessoas apressadas a correr para o metro. Gosto de me sentar num dos bancos do centro comercial e olhar as pessoas a entrar e a sair das lojas carregadas de sacos de compras. E gosto de imaginar. Imagino quem serão essas pessoas. Que vidas terão, porque andam tão apressadas, que profissão têm. Já aconteceu conhecer pessoas de vista, imaginar como seriam as suas vidas e depois conhecê-las melhor. Umas vezes acerto, outras a minha imaginação não podia andar mais longe da verdade. 

Eu gosto de observar, mas a maior parte das pessoas não me desperta a atenção. Ou são muito apressadas ou têm cara de poucos amigos ou parecem, do meu ponto de vista, claro, desinteressantes.

Aqui há uns tempos vi uma família cá em Faro, no Fórum, que me despertou a atenção. Era um casal com dois filhos, uma menina lourinha com uns 5 ou 6 anos e um menino mais novo, ainda de cadeirinha de bebé. Isto foi num dia de semana à hora de jantar. Eu tinha ido ao supermercado comprar qualquer coisa e essa família estava a pagar as suas compras. A mulher, ou rapariga, que devia ser mais ou menos da minha idade, fez-me lembrar esta actriz, que eu tinha visto neste episódio do How I Met Your Mother. Toda a família tinha um ar calmo e descontraído, quer na maneira de vestir quer na postura. Pagaram as compras e foram, devagar, para o parque de estacionamento, para onde eu também me dirigi. Não estavam com pressa. Foram com calma, a saborear nas escadas rolantes as bolachas que tinham acabado de comprar. O casal e os filhos tinham um ar tão sereno que eu, até chegar ao meu carro, fui sempre a olhar para eles. Eles tinham os carros estacionados perto do meu; o homem entrou para um jipe e a mulher para um Audi velhinho como o meu. Imaginei logo que deviam ter saído do trabalho e encontraram-se no Forum para jantar e fazer as compras... 

Enfim... Aquela família deixou-me com um sorriso na cara. Senti-me bem por haver pessoas assim - relaxadas, sem pressas... parecia que estavam verdadeiramente em paz com eles e com o mundo. Fui para casa e não pensei muito mais no assunto. Afinal, as aparências iludem, como se costuma dizer, e por baixo daquela capa descontraída, podia estar uma família cheia de problemas.

Faro não é uma cidade muito grande e, desde esse dia, voltei a ver essa família mais duas vezes. Uma vez na Bershka, outra vez num parque infantil perto do Fórum. E sempre com a mesma postura relaxada, intencional, apaixonada mesmo, que me prendeu o olhar naquele dia. Não faço ideia de quem são essas pessoas, ou se a verdade corresponde à imagem que desenvolvi na minha cabeça. Mas depois de os ter visto estas três vezes, fiquei curiosa. Quem são eles? É que se esta família é assim como eu a imagino, é o tipo de família com quem eu não me importava de beber um chazinho de vez em quando...

E vocês, também observam as pessoas e imaginam coisas? Já agora, se alguém conhecer esta família (ou se a rapariga ler este blog), adorava saber!!

19 comentários:

  1. Gostava que um dia alguém olhasse para a minha família e escrevesse algo do género. Julgo que não há maior elogio!

    ResponderEliminar
  2. Pelos vistos não sou a única! Adoro fazer "filmes" sobre a vida de pessoas que observo no comboio, na fila do PD, etc. É engraçado que ainda ontem no PD tmabém dei por mim a reparar num casal com uma bébe e a imaginar a vida e a casa de cada um deles. Para mim ela seria modelo e ele surfista...

    ResponderEliminar
  3. Também adoro fazer isso! E é muito melhor fazer este tipo de observação (positiva) do que estar sempre a criticar tudo e todos! Se todos imaginassemos vidas e coisas assim seriamos muito mais felizes :)

    ResponderEliminar
  4. Às vezes também faço isso... Quer na rua, quer nas filas de transito...
    À pessoas que transmitem serenidade, outras stress, outras alegria, tristeza e por aí fora...

    Gosto :) E ainda bem que mostras que não sou a única (tu e quem já aqui comentou).

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Também gosto muito de observar a vida no geral ;)

    Hoje deixei o seu link no meu post, espero que não me leve a mal!

    Muito obrigada pelo seu blog, tem sido uma luz no meu caminho!

    Beijinhos
    Sónia

    ResponderEliminar
  6. Adorava que alguém escrevesse um texto deste género sobre nós hehe Acrescentando apenas, "tinham um ar feliz"

    ResponderEliminar
  7. Uma publicação que tem tanto de curioso como de interessante!

    ResponderEliminar
  8. Que belo texto! Tranquilo, relaxado e interessante, assim como a família que descreve. Já vou calçar o tênis e sair para a caminhada no parque, desta vez sem ter a mente dando mil voltas, mas simplesmente olhando à minha volta...

    ResponderEliminar
  9. Amei!
    Acontece-me o mesmo, especialmente pela janelo do carro e nas longas viagens que fazemos do algarve a trás-os-montes... fico a olhar cada casinha e imaginar como será viver ali, quem serão aquelas familias...
    Por outro lado, faço minhas as palavras da Erica, seria dos melhores elogios que me poderiam fazer.

    ResponderEliminar
  10. Que belo olhar vc tem, Rita!
    Muito mais frequente as pessoas olharem-se umas as outras para medir o seu status, sua boa forma, seu dinheiro, ou falta de tudo isso, para sentirem-se superiores ou inferiores...

    ResponderEliminar
  11. Amo ver pessoas, casas à venda - fico a imaginar como seriam os moradores delas...
    Minha imaginação corre solta nessas horas.

    ResponderEliminar
  12. olha nao estou sozinha no mundo mesmo! fazia isso mtas vezes em Lisboa, especialmente qdo ia em transportes publicos, punha-me a tentar criar historias na minha cabeca para cada pessoa: "aquela senhora sentada a olhar pensativamente para o vidro, esta a imaginar que surpresas vai ter quando chegar a casa, e se vai ter o abraco da pessoa amada". outras vezes quando reparava em pessoas a conversar punha-me a imaginar o que podia ser a conversa. e o chamado navegar na maionese :)

    ResponderEliminar
  13. Como te compreendo!
    Eu costumava observar (e invejar) uma rapariga que estava muitas vezes sozinha no parque à hora de almoço (assim como eu), mas se eu estava para fugir ao meu trabalho, ao stress, à pressão, ela parecia estar apenas a relaxar, ora falava ao telefone alegremente, ou lia atentamente um livro... Tinha um ar super pacífico e descontraído, de bem com a vida. Cruzei-me várias vezes com ela em várias zonas perto do meu trabalho e acho que ela também trabalhará ali perto, mas nunca tive coragem de meter conversa e dizer que admiro a postura dela. Tenho alguma curiosidade, mas gosto do cenário que criei na minha mente, de uma pessoa em paz com a vida, tranquila com tudo. :)

    ResponderEliminar
  14. Isso sou eu, adoro observar e imaginar a vida das pessoas com quem me cruzo. Imagino que profissão terão, onde vivem, terão filhos, os pais serão amigos... a minha mente voa. Nem é intensional, faço-o sempre desde que me conheço.... E ultimamente observo também casas, e penso que farão as pessoas lá dentro, como será a disposição da casa...

    ResponderEliminar
  15. Também gosto de fazer isso. Observar.
    O metro é um local para o fazer. Há sempre imensa gente e de todo os estilos. É um carrossel de pessoas/vidas. É muito interessante.

    :)

    ResponderEliminar
  16. Este texto é fantástico, ao le-lo pensei "isto poderia ser escrito por mim", gosto de observar as casas, as pessoas, as comprar no super-mercado de quem está à minha frente!! Pelo texto e pelos comentários parece-me uma atitude comum a quem vive com calma. Obrigada pela partilha.

    ResponderEliminar
  17. I can so relate.... always loved to observe people... and imagine... how their truth may or may not be completely different than what you imagine! I do it in the bus all the time! As I have no car, I have LOTS of time to watch people... Sadly, the more I look at people, the more I see people needing help... very rarely, here in Montreal anyway, do we see people that seem relaxed and happy!

    p.s. I finaly realized that I can use the google translate thing directly on your blog and get a better idea of what you're talking about... therefore I suscribed to your blog... and will get to read more of those wonderful posts!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Thank you so much for subscribing!! In the beginning I used to write in portuguese and english, but most of my readers are either portuguese or brazilian, so... Google translation is funny! It's not perfect but you'll get the idea!

      Eliminar
  18. Também eu sofro do mesmo "mal" adoro estar sentada num sitio especifico e observar as pessoas, também eu faço histórias na minha cabeça. um dia no centro comercial Colombo em Lisboa estava eu descontraída a observar os outros e apanhei um susto que me disparou o coração e levantei-me em menos que nada os meus olhos "bateram" numa moça com um corpo idêntico ao meu de cara não éramos nada parecidas, fui um susto que nem queiras imaginar, ainda assim quando tenho de esperar por alguém e não levo um livro observar os outros é um bom passatempo e olha que se aprende sempre qualquer coisita na nossa observação secreta pelos outros, beijinhos ! http://avidaeboamasnaoeboazinha.blogspot.pt/

    ResponderEliminar

Obrigada pelo comentário!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...