Esta semana tenho andado silenciosa, tanto no blog como nas
redes sociais, pois estou sem internet em casa. Devo dizer que me tem sabido
muito bem! Numa semana li dois livros, dois policiais de P.D. James. Um deles,
“Mortalha para uma enfermeira”, é sobre a investigação do assassinato de duas
estagiárias de enfermagem. Adorei toda a descrição de uma das estagiárias, Jo
Fallon – uma minimalista, não tratada por esse nome, mas que se torna evidente
ao ler a descrição do seu quarto e do estilo de vida. Adorei tal descrição num
livro publicado em 1971. Aqui fica um excerto do livro, quando o detective da
polícia Adam Dalgliesh passa em revista o quarto de Jo Fallon. Se gostam de
policiais, este é muito bom.
Tratava-se do quarto de uma mulher que preferia não estar
atravancada. Continha as necessárias comodidades básicas e um ou dois elementos
decorativos cuidadosamente escolhidos. Era como se ela tivesse catalogado as
suas necessidades e as satisfizesse dispendiosamente mas com rigor e sem
extravagâncias. O espesso tapete junto da cama não era, pensou ele, do tipo
fornecido pela Comissão de Gestão do hospital. Havia apenas um quadro, mas
tratava-se de uma aguarela original, uma encantadora paisagem da autoria de
Robert Hills, colocada no sítio em que a luz da janela a iluminava melhor. No
parapeito da janela via-se o único ornamento, uma figura em cerâmica de
Staffordshire (…). Mas não se via nenhum dos triviais pertences que as pessoas
que vivem em instituições muitas vezes espalham para lhes proporcionar conforto
ou segurança.
Avançou até à estante ao lado da cama e voltou a examinar os
livros. Também estes se diriam escolhidos de modo a contribuir para estados de
espírito previsíveis. (…)
Aos pés da cama ficava um guarda-vestidos com cómoda
acoplada, uma engenhoca bastarda de madeira clara, concebida, se é que alguém
tinha concebido deliberadamente um objeto tão feio, para proporcionar o máximo
de arrumação num mínimo de espaço. O tampo da cómoda destinava-se a servir de
toucador e tinha poisados a escova e o pente da rapariga. Nada mais.
Abriu a pequena gaveta do lado esquerdo. Continha os
acessórios de maquilhagem, com os frascos e bisnagas muito arrumados num
pequeno tabuleiro de papier mâché. Havia bastantes mais coisas do que ele
esperara encontrar: creme de limpeza, uma caixa de lenços de papel, creme de
base, pó-de-arroz compacto, sombra para os olhos e rimmel. Era visível que a
rapariga se pintava com esmero. No entanto havia apenas uma coisa de cada. Nada
de experiências, de compras por entusiasmo de momento, nem de bisnagas meio
utilizadas e postas de parte com o produto de maquilhagem coagulado em torno da
carrapeta. O conjunto dizia: “Isto é o que me fica bem. É disto que preciso.
Nem de mais, nem de menos.”
Abriu a gaveta do lado direito. Não continha mais nada além
de um arquivo do tipo fole, com todos os compartimentos etiquetados com as
letras do alfabeto. Passou em revista o conteúdo, dedilhando-o. Uma certidão de
nascimento. Um atestado de batismo. Um livro de cheques de uma conta-depósito a
prazo. O nome e a morada do advogado. Não havia cartas particulares. Enfiou o
arquivo debaixo do braço.
Prosseguiu até ao guarda-vestidos e voltou a examinar a
coleção de roupas. Três pares de calças. Blusas de cachemira. Um casaco de
inverno de tecido escocês vermelho-vivo. Quatro vestidos de boa lã, de fino
corte. Todos eles tinham um ar de qualidade. Tratava-se de uma guarda-roupa
caro para uma estagiária de enfermagem.