31/01/2013

A revisão de artigos científicos

Aviso: este post só interessa ao pessoal da ciência...

Há alguns anos, comecei a receber convites para rever artigos para revistas profissionais. Fiquei super entusiasmada! Já era considerada uma perita na minha área! Geralmente aceitava todos os convites que chegavam até mim e revia cuidadosa e entusiasticamente os manuscritos, aprendendo imenso no processo.

Lembro-me uma semana em que recebi três artigos para rever, um deles da revista de topo da minha área... aceitei os três e depois dediquei um dia inteiro a cada manuscrito (três dias numa semana foram portanto passados a rever artigos...). Sentia-me contente porque estava a dar um bom contributo para o processo do peer-review. A minha actividade como revisora cresceu agora para um número confortável de revistas diferentes, que fica muito bem no meu CV.

No entanto, chega uma altura em que simplesmente não sobra muito tempo para estas tarefas. Rever um manuscrito científico requer tempo, paciência e vontade de fazer um bom trabalho. Às vezes recebo artigos em alturas em que estou mesmo ocupada e a minha primeira reacção é "Oh não, outro artigo não!!..."

Percebi que não posso aceitar todos os artigos que recebo. E assim tive que desenvolver uma estratégia para decidir se aceito ou não os convites...

1. Não aceito manuscritos se se aplicar um dos seguintes pontos:

- não é a minha área de especialização
- estou muito, mas mesmo muito ocupada nas próximas semanas; prefiro rejeitar o convite do que fazer uma revisão à pressa porque a minha cabeça está a pensar noutras coisas...
- o editor espera uma revisão em poucos dias, tipo uma semana ou menos (sim, acontece, sobretudo em revistas de mais baixa qualidade)

2. Se estiver mesmo indecisa, tenho em consideração o seguinte:

- a revista é uma boa revista? Já recebi artigos de revistas que nunca ouvi falar que aceitei, mas quando me dão prazos de 4 ou 5 dias, digo logo que não (devem pensar que não tenho mais nada para fazer)
- já revi algum artigo para essa revista? Nova revista significa nova linha no CV, por isso aceito...
- dão-me acesso ao Scopus? Se derem, aceito logo! Adoro o Scopus e na universidade só tenho acesso ao Web of Knowledge. Por isso, se o convite vier com 30 dias de Scopus grátis, aceito!

Seja como for, costumo aceitar a maior parte dos artigos que recebo para rever... gosto de fazer a minha parte, contribuir para o peer-review e para a qualidade da ciência que é publicada. É verdade que rever artigos pode ser uma grande seca, mas também se aprende bastante no processo... e saber que estou a contribuir para o avanço da ciência é uma sensação fantástica!

11 comentários:

  1. 100% de acordo contigo Rita! A primeira vez que me pediram (foi há pouco tempo) fiquei muito entusiasmado! Mas o artigo estava tão mau que demorei 3 dias a revê-lo... Rejeitei-o...

    Depois recebi outro em que aprendi muito e claro fiz as minhas perguntas! Recebi esta semana a revisão e pareceu-me aceitável! Só que no mesmo dia recebi mais dois para rever de outra revista em que publiquei! Como ando nos finalmentes da tese mas não queria rejeitar tudo, aceitei rever aquele que me pareceu mais adequado e rejeitei rever o outro com muita pena minha mas é como tu dizes para estar a rever à pressa não vale a pena!

    Masxo sentimento de estsr a contribuir para o progresso científico é muito gratificante! :-)

    Beijinhos

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  2. Ainda não publiquei nenhum artigo, mas tenho muita vontade. Tomara que os meus revisores tenham a sua responsabilidade Rita. É gratificante saber que alguém realmente leu o que vc escreveu.

    E quando vc conta que além de tudo que vc faz ainda revisa artigos, eu acho que vc vive em outra dimensão, onde o seu dia tem 36 horas! rsrs

    Um beijo

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  3. Obrigada pelas dicas! Ainda não cheguei a essa fase, mas já tenho um artigo a ser revisto por terceiros e estou muito curiosa para ver o que sai dalí... Ouvi dizer que há revisores "maus" e super brutos e estou com algum receio de não receber críticas construtivas, mas sim um "bota abaixo"...

    Bom trabalho! :)

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  4. Apenas um pequeno comentário/crítica de quem já passou a fase do entusiasmo em receber artigos para rever há algum tempo:

    "Não aceito manuscritos se se aplicar um dos seguintes pontos:

    - não é a minha área de especialização"

    isto devia ser óbvio para quem recebe um convite para rever, mas infelizmente há quem faça. Não só pela honestidade do processo mas também pela credibilidade de quem revê: não há nada pior do que dar a entender que não se percebe do assunto nas críticas que são feitas. E já agora outra sugestão mas para o oposto: quando o artigo é da área de especialização deve refrear-se a vontade de levar os autores a citarem o nosso trabalho quando ele não está citado.
    Finalmente um conselho para os mais entusiastas da revisão. A revisão deve ser qb, ou seja se é para rejeitar, rejeita-se com os principais problemas do artigo e não uma lista enorme de críticas, porque aí o que se está a fazer é o trabalho que os autores deviam ter feito e não fizeram. Quando há minor/major changes aí deve listar-se exactamente o que deve ser mudado.

    Já agora os dois pesos para aceitar a revisão além do tema: o factor de impacto da revista e os autores.

    Bjs (nice post!)

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  5. Uma curiosidade, não sei se já foi falado por aqui ou não...

    Rita, usas, por exemplo, o Docear, an ‘academic literature suite’, ou o Mendeley?

    Obrigada,

    Salomé :)

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    Respostas
    1. Obrigada.

      Tem sido uma ajuda para a sua organização, facilitando a sua vida?

      E já agora, alguma vez experimentou o Docear? Se sim, achou que não valia a pena, comparando com o Mendeley?

      Mais uma vez obrigada! :)

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    2. Sim, o mendeley ajuda bastante para manter os artigos organizados. Do docear nunca ouvi falar...

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    3. Obrigada :)

      O Docear é um programa de mind mapping próprio para investigadores, mas que está ainda a ser desenvolvido (embora já se possa usar). Estou a experimentar e parece-me bem... não é é muito intuitivo (pelo menos para mim), ao contrário do Mendeley, o que atrapalha um bocado nesta fase inicial. Dão para usar em conjunto.

      http://www.docear.org/docear/about/

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  6. Olá, Rita!
    Eu faço medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (Brasil), e sempre acumulei funções e atividades - artigos, projetos de pesquisa, extensão, ligas acadêmicas, cursos.. Após acompanhar seu blog, tenho percebido que não há necessidade de tanto, e que, no meio de tantas atividades, acabo sem tempo para o que realmente importa..
    Tenho me esforçado para reduzir o número de atividades, mas focar e dar meu melhor naquelas que realmente me interessam. Mas como é difícil dizer 'NÃO'!
    Obrigada por nos ajudar a encontrar esse caminho pra simplicidade.

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  7. O mais difícil nesta actividade é saber dizer não...

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Obrigada pelo comentário!

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