Tomas consciência de que te deixaste levar pela tralha que tem entrado na tua vida. E, por tralha, deverá entender-se tudo o que entra e não traz valor-acrescentado: pessoas que não interessam, tarefas inúteis, objectos sem o menor interesse e/ou valor.
E, depois dessa tomada de consciência, encetas uma mudança: menos tempo perdido com tarefas que não interessam, mais tempo passado a fazer coisas de que se gosta, menos 12 quilos, menos tralha em casa – dada, vendida, enviada para reciclagem, ou trocada por itens mais úteis. A vitória mais saborosa? Deixar de ter detergentes de roupa e garrafões de água espalhados pelos recantos do chão da cozinha. E passar a ter os armários dessa mesma divisão mais arrumados e arejados.
Não era uma consumista desenfreada, ou uma ávida consumidora dos últimos gritos da moda, mas tinha a minha quota-parte de roupa que tinha comprado só porque sim e que praticamente nunca tinha vestido. E um número considerável de aparelhos que adquiri porque pensava que ia fazer alguma coisa de útil com eles, ou que me iam efectivamente a ajudar ser mais produtiva, ou a ser mais, ou a ter mais valor, sei lá… Por vezes, era levada a gastar só por gastar, a ter só por ter. “Afinal de contas, ganhamos dinheiro para quê?”, perguntamo-nos interiormente.
É um ciclo difícil de quebrar. Temos dinheiro no banco, não se prevêem adversidades, e há sempre qualquer coisa nova a chamar por nós, a fazer-nos pensar que só seremos verdadeiramente felizes se comprarmos essa mesma coisa. “Sim, quando tiver aquele tablet novo, vou conseguir ver os meus e-mails mal eles cheguem e dar resposta imediatamente e vai sobrar-me muito mais tempo para fazer as outras mil tarefas que tenho no meu dia-a-dia! E vou finalmente pôr-me a par, via Facebook, de todos os «Ais» e «Uis» de Fulano e de Sicrana, de quem não gosto especialmente, mas que importa isso?”
No entanto, trata-se de uma ilusão. É perigoso pensar que comprar, comprar e comprar vai resolver o que quer que seja na nossa vida. Afinal de contas, quando o entusiasmo que rodeia uma compra se desvanece, o que fica? A felicidade não são os objectos, como todos nós bem sabemos, ainda que por vezes actuemos como se isso não fosse verdade. A felicidade somos nós, o que temos dentro de nós, e a qualidade do relacionamento que temos com quem (ou o que) nos rodeia. Apenas, e só, isso.
As mudanças que levei a cabo na minha vida pessoal fizeram com que passasse a ter uma casa mais arrumada e uma vida familiar mais organizada. Há algum trabalho por fazer (destralhar tornou-se uma espécie de vício, ainda há muito "potencial de destralhamento" no meu pequeno T2 e também objectos que decidi vender/trocar que ainda não encontraram o seu novo dono).
Porém, se a vida pessoal parece ter encontrado um rumo que me deixa feliz, o aspecto profissional ainda deixa a desejar...
Li Leo Babauta (Focus e Zen To Done) e passo o tempo a tentar passar para a minha realidade os ensinamento do autor. Consegui destralhar a minha secretária (o tampo quase não se via, com tanto papel…), passar a não adiar o arquivo de documentação, domar as minhas inboxes, anular subscrições de newsletters absolutamente desinteressantes e fazer uma cura de desintoxicação de redes sociais (uso o Facebook – cada vez menos – e o Linkedin, apenas). São tudo aspectos positivos e tudo decisões com as quais vivo bem e que me fazem sentir como há muito me queria sentir: livre e leve. Deixei de seguir as notícias e são as minhas colegas de trabalho, e outras pessoas com quem lido diariamente, que me mantém a par do que de mais surpreendente este mundo tem para nós a cada dia (ai, a raça humana…). A “desinformação” sabe-me verdadeiramente bem!
Porém, nem todos os conselhos de Leo são, para mim, fáceis de seguir à risca. Procrastinar é algo que me sai muito naturalmente nos dias que correm, para infelicidade minha. A culpa será do poder de distracção da Internet? Da minha incapacidade em me concentrar num só tema durante muito tempo? Da falta de vontade em realizar as minhas tarefas? Da abundância de tempo entre mãos para fazer o que tem de ser feito?
Esta é a minha batalha actual: deixar de procrastinar. Oxalá fosse tão fácil como destralhar, mas tentarei!
Obrigada, Rita, pelo teu blogue. A tod@s os que estão nesta jornada de simplificação, sejam felizes.
Take care!
Mafalda
~
Queres participar? Envia-me um texto a contar a tua jornada em direcção a uma vida mais simples para o email rita (at) busywomanstripycat.com, com o assunto "guest post". Obrigada!
Como me identifiquei com este texto!
ResponderEliminarBeijinho
Como te compreendo Mafalda... para mim também é uma luta! Fica aqui a dica para a Rita nos ajudar a ser mais produtivas :)
ResponderEliminarMe identifiquei também. Minha meta é essa parar de procrastinar. Amei esse texto.
ResponderEliminarTãao saboroso esse texto! Adorei a parte dos "ais e uis" de fulano e sicrana...:))
ResponderEliminarAdorei!!... Simplesmente porque me vejo neste texto... já consegui destralhar à muito (incluindo a exclusão da TV da minha vida), sou mesmo muito minimalista e dou muito valor às pequenas "coisas" da vida... Vivo exatamente o mesmo dilema de constantemente adiar o que precisa de ser feito... como é didícil deixar de procrastinar :( ... para além de viver no Algarve com o meu companheiro mais as minhas 2 filhotas, 3 cães e 1 gato :) adorar tudo quanto é Zen e ter o sonho de um dia ser disciplinada o suficiente para chegar ao "Samadhi" ;)
ResponderEliminarBeijinho e grata pela partilha :)
Obrigada pelas vossas palavras.
ResponderEliminarA publicação deste meu testemunho "apanhou-me" de férias. Têm sido dias simples, em família, fazendo apenas o que nos apetece, longe do bulício da capital e da correria diária.
Curioso como há tempo para tudo quando estamos assim, como nos aborrecemos menos, como nos damos mais e como tudo parece mais belo.
Parar de procrastinar é, definitivamente, o caminho.
Toca a apreciar a viagem!
Rita,
ResponderEliminaradorei este texto da Mafalda,
um dos meus problemas é igual ao dela chama-se PROCRASTINAR,
beijinho
Afinal não sou só eu!!! Identifiquei-me com o texto da Mafalda. Por mais listas que faça, que destralhe ainda mais caio sempre na proscratinação para depois me sentir mal com isso.
ResponderEliminarAcho que já somos muitos Rita, que tal falar mais desta temática?
Aproveito a deixa para dizer que o teu blog tem sido muito inspirador!
Muito obrigada
Muito obrigada por teres começado a escrever e continuares a escrever este blog. Encontrei-te por acaso por causa de um post nos novos rurais de um artigo do DN "Gente feliz com menos".
ResponderEliminarMuito interessante e inspirador!
Adorei esse texto!
ResponderEliminarNão procrastinamos nossas paixões! Às vezes não se trata de fazer mais, mas fazer algo gostoso...
ResponderEliminarA propósito, amei o texto!
Abraço
Cintia
Olá, Rita e Mafalda!
ResponderEliminarPeço desculpas pelo comentário extenso.
Não posso concordar com o que diz a Cintia: o trágico da procrastinação é que ela afeta tanto as tarefas desagradáveis, bem como aquelas cuja realização nos dá prazer. Falo por experiência: tenho verdadeira paixão pelo meu trabalho, mas isso não me impede de procrastinar sistematicamente tarefas relacionadas a ele.
Imagino que seja difícil escrever um post sobre o tema por se tratar de algo demasiado pessoal. Rascunho aqui algumas ideias que talvez venham a ser proveitosas para algum leitor.
Para melhor entender o problema da procrastinação, penso ser útil a imagem de uma árvore: o adiamento das tarefas é a copa (i.e. aquilo que vemos na superfície) e as raízes são os motivos que nos levam a procrastinar - em outras palavras, a procrastinação é apenas um sintoma de algo mais profundo. Cabe a cada um perscrutar os motivos pelos quais procrastina.
De um ponto de vista mais pragmático, procrastinar é um mau hábito com consequências, por vezes, trágicas. Trata-se de um mecanismo de auto-sabotagem: ao procrastinar, sabotamos o nosso eu futuro (por exemplo, um eu mais saudável ou mais bem-sucedido no trabalho ou nos estudos). Com o passar do tempo, o abismo entre a realidade e o desejo, entre aquilo que o procrastinador não fez e o que deveria ter feito se torna cada vez maior. O alto preço que se paga é a vida com a consciência pesada. Quem procrastina sofre e sente vergonha.
Deixo aqui três dicas: duas de leitura e uma, digamos, mais prática.
Dois livros me ajudaram bastante a entender o problema: um mais antigo, "The Now Habit", de Neil Fiore e outro bem mais recente, "The Procrastination Equation", de Piers Steel. Este último foi para mim um divisor de águas, pois relaciona a procrastinação à ansiedade, ao cultivo de expectativas, à dificuldade do procrastinador em realizar tarefas de longa duração por querer sempre resultados imediatos.
A terceira dica – de fato, a mais importate - é a prática diária de técnicas da Mindfulness-based cognitive therapy (MBCT), que incorpora elementos da meditação e da ioga. O procrastinador crônico está atrelado à insatifação com o passado (aquilo que não fez) e com o futuro (aquilo que deixa para fazer – e muitas vezes não fará – amanhã). A chave está em voltar a nossa atenção para o presente – no fim, o único tempo em que podemos, de fato, agir.
Um abraço a todos,
M.
Mafalda .. amei o teu texto! .. Me enxerguei muito nele!!! .. Como a gente se sente mal sendo assim: .. 'procrastinar' .. deixar pra depois .. adiar .. postergar, .. principalmente em relação as tarefas! .. E eu estou assim, já faz um bom tempo! .. E simplesmente não consigo, e quando consigo alguma coisinha, não faço a coisa completa!!!! E esse comentário desse ou dessa anônimo(a)M., disse algo que me tocou profundamente que vou reproduzir: .."O procrastinador crônico está atrelado à insatisfação com o passado (aquilo que não fez) e com o futuro (aquilo que deixa para fazer – e muitas vezes não fará – amanhã). A chave está em voltar a nossa atenção para o presente – no fim, o único tempo em que podemos, de fato, agir." .. Muito bom!!!! .. Quem sabe é isso mesmo que acontece comigo?!!!
ResponderEliminarPreciso olhar tudo isso em mim com bem mais atenção!!!! .. Parabéns pelo Blog Rita!!!