(revisto em novembro 2016)
A perturbação de hiperatividade e défice de atenção em crianças é provavelmente a desordem do foro psiquiátrico mais comum, mais estudada e mais controversa. Há quem diga que esta perturbação não existe e é verdade que há muitos casos mal diagnosticados de PHDA (mas também muitos por diagnosticar). Há também uma sobremedicação das crianças com sintomas de PHDA, sobretudo no Estados Unidos.
A PHDA caracteriza-se por um padrão crónico de níveis elevados de falta de atenção, hiperactividade e impulsividade. Estima-se que mais de 5% das crianças em todo o mundo sofram de PHDA Resumidamente, o cérebro destas crianças não produz as ondas cerebrais que deveria produzir. Por exemplo, as crianças com PHDA têm um maior rácio de ondas teta para ondas beta do que as outras crianças. Já há diagnósticos de PHDA que se fazem através de electroencefalogramas, se bem que o método mais comum é a observação do comportamento da criança pelos pais, educadores e médicos. Há vários subtipos de PHDA; umas crianças são mais desatentas, outras são mais hiperactivas e outras têm uma combinação de desantenção e hiperactividade.
Um dos meus filhos tem PHDA, o subtipo da desatenção. É medicado há pouco mais de 1 ano e não há dúvida que o metilfenidato resulta. Mas se há coisa que me perturba é dar-lhe estes medicamentos, se bem que ele nem apresenta os efeitos secundários mais comuns, como perturbações de sono ou falta de apetite.
Há uma série de outras terapias alternativas e alterações na rotina e na educação das crianças que ajuda imenso a diminuir os sintomas de PHDA. Eu, como cientista, apaixonei-me por este tópico do PHDA em crianças e tenho lido imenso sobre a investigação que se faz nesta área.
Tenho feito ajustes à rotina do meu filho, à sua alimentação e outras coisas, e realmente há coisas que ajudam. Ele só toma o comprimido em dias de escola e às vezes já nem lho dou e ele consegue à mesma estar com atenção nas aulas e fazer os trabalhos. De acordo com o que li e com a minha experiência, os passos seguintes podem fazer toda a diferença na vida de uma criança com PHDA:
1 || Ter a certeza que a criança tem PHDA
Há outras perturbações com sintomas semelhantes e há médicos que são rápidos demais a fazer o diagnóstico e a receitar psicoestimulantes... No caso do meu filho não há qualquer dúvida, aliás, eu percebi que ele tinha PHDA antes de o levar a um neuropediatra, mas há casos mais difíceis de diagnosticar (por exemplo, há miúdos que parecem hiperactivos, mas são é malcriados... outros podem ter falta de atenção nas aulas porque dormem mal de noite, e não porque têm PHDA).
2 || Seguir rotinas diárias bem definidas
Qualquer criança sente-se mais segura com rotinas bem definidas. Já falei sobre isso
neste post. As crianças com PHDA ainda mais - é importante não haver surpresas e saberem exactamente que quando chegam da escola lancham e a seguir fazem os trabalhos de casa, por exemplo. Quando, por algum motivo, a rotina do meu filho é quebrada (por exemplo, se formos a algum sítio depois da escola em vez de irmos logo para casa), noto logo diferenças nos trabalhos de casa. É importante estas crianças (e as outras...) terem rotinas diárias bem definidas e consistentes para saberem com o que podem contar; assim, sentem-se mais calmas e mais seguras.
3 || Alterações na dieta
Há alguma controvérsia em relação ao efeito de certos alimentos, como o gluten, em crianças com PHDA. É geralmente aceite que uma dieta mais natural, com menos comidas processadas, açúcar, corantes, conservantes e outros aditivos, ajuda a diminuir os sintomas de PHDA. Eu tento que os meus filhos comam o melhor possível, não por causa da PHDA, mas porque é mais saudável uma alimentação mais natural... Admito que sou um pouco paranóica com o gluten e ainda não o eliminei totalmente da nossa alimentação, por isso não posso garantir que tenha efeitos positivos, mas há quem diga que sim.
4 || Fazer exercício físico
O exercício físico, modo geral, faz bem à saúde de crianças e adultos. Há imensos estudos que mostram que crianças e adolescentes que fazem desporto regularmente têm melhores notas e mais auto-estima que crianças que não praticam exercício físico regular. Para mim, fazer desporto é tão importante como ir à escola! E nos miúdos com PHDA, o exercício físico estimula o cérebro a produzir certos químicos de que necessita.
5 || Limitar o tempo passado à frente de ecrans
As actividades que os miúdos fazem em frente aos ecrans afecta a produção de químicos pelo cérebro, o que potencia os sintomas de PHDA. O tempo passado em frente a tablets, TVs, computadores, play stations e similares deve, portanto, ser limitado. Esta alteração é a mais complicada... eu disse aos meus filhos que nos dias de escola têm 1 hora para ecrans, mas a verdade é que muitas vezes não consigo controlar...
6 || Comunicar claramente
Às vezes falo com o meu filho e ele nem ouve - é típico da PHDA. Para dar instruções, dizer coisas importantes, seja o que for, deve-se ter a certeza que a criança está a tomar atenção ao que dizemos, de preferência com olhos nos olhos, e sem distrações como a televisão.
7 || Respirar fundo e reforço positivo
Antes do diagnóstico do meu filho, eram muitas as vezes que eu me "passava" com a sua falta de atenção, sobretudo na hora de fazer os trabalhos de casa. Não adianta um pai "passar-se", nem gritar, nem ficar chateado com o filho. Quanto mais frustrados nós ficarmos, mais eles ficam também. É preciso muita paciência, muito auto-controlo por parte dos pais, mas a recompensa é uma criança mais calma, menos stressada e mais atenta. Eu, quando sinto que vou perder as estribeiras, dou um time-out a mim mesma - é melhor que pôr-me aos berros com o miúdo. E recompenso-o quando ele faz os trabalhos todos sem refilar e sem se distrair.
8 || Yoga, meditação, Ayurveda
Há vários estudos que se debruçam sobre os efeitos destas técnicas em crianças com PHDA. Infelizmente, os estudos são ainda poucos, a maioria vem da Índia e a investigação que se faz aí é às vezes ignorada pelos cientistas ocidentais. No entanto, esses estudos mostram que a prática de yoga e meditação tem efeitos muito positivos no desempenho escolar das crianças com PHDA, visto que ajuda a acalmar e a focar a mente. De acordo com a medicina tradicional indiana, o PHDA é um desequilíbrio Vata. Nas pessoas Vata (e o meu filho é, sem dúvida, Vata; o outro é Pitta, como a mãe) predomina o elemento ar e a elas associa-se movimento - e não costumamos dizer que uma pessoa distraída é um cabeça de vento ou cabeça no ar?
Se tens um filho com PHDA, adorava saber a tua história!
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