15/02/2012

O desapego das coisas


Há tempos recebi um email de uma leitora que se debatia com um problema comum a muitos de nós. Ela queria destralhar, pois estava a pensar emigrar e tem um espaço de armazenamento pequeno para deixar as suas coisas cá em Portugal, mas estava a ser difícil escolher coisas e livrar-se delas, pois essas coisas são tudo o que ela tem.


O apego às coisas - quem é que não sente isso?

Queremos jogar coisas fora, mas cá por dentro sentimos um medo irracional de o fazermos, pois
a) achamos que um dia poderemos precisar das coisas outra vez, ou
b) as coisas têm uma forte carga emocional - coisas que nos lembram alguém ou alguma situação importante da nossa vida.

Em relação às coisas que não jogamos fora porque talvez sejam úteis um dia, é fácil: o velho método de guardar as coisas numa caixa durante x tempo (vá, um ano é mais que suficiente). Se nesse período as coisas forem usadas, então realmente são úteis. Se não forem usadas, provavelmente nunca o serão e não merecem estar a ocupar tanto espaço na nossa vida. Há certas coisas que mais vale pedirmos emprestado a alguém quando precisarmos do que termos coisas dessas a ocupar espaço em casa. Por exemplo, se tem ferramentas ou electrodomésticos que nunca usa, por que não dá-las a amigos ou familiares que os usem, com a condição de poder usá-los quando precisar?
Não há desculpas para mantermos tralha em casa - a tralha não se guarda e não se organiza. A tralha vai fora.

Em relação a coisas com forte carga emocional, este texto do Joshua Fields Millburn diz tudo. A sério, se estão à vontade com o inglês, leiam o texto.
Resumidamente, a mãe do Joshua morreu e ele ficou encarregue de vazar o seu apartamento. Alugou uma daquelas unidades de armazenamento e uma carrinha para guardar todos os pertences da mãe, caso um dia ele precisasse de alguma coisa ou precisasse de ter acesso às coisas por algum motivo.
No apartamento começou a arrumar as coisas da mãe em caixas. Até que olhou para debaixo da cama, atulhada com caixas de cartão seladas. Abriu uma das caixas e no seu interior estavam cadernos dos primeiros 5 anos de escola do Joshua. A mãe do Joshua tinha guardado todas essas coisas para se lembrar do seu filho e tê-lo mais perto de si. Mas era evidente que as caixas com as tais coisas que a fariam recordar o seu filho não eram abertas há muitos, muitos anos. Porque não é nas coisas que estão as recordações - é dentro de nós.
O Joshua apercebeu-se então que não precisava das coisas da mãe para se lembrar dela, tal como a mãe nunca precisou de abrir as caixas seladas para recordar o filho.
O Joshua cancelou a carrinha e a unidade de armazenamento e doou as coisas da mãe para poderem ser úteis a outras pessoas.

As lições que ele aprendeu:

- Não são as coisas que temos que definem quem somos.

- As nossas memórias não estão debaixo da cama. Estão dentro de nós, não nas nossas coisas.

- Um coisa que tem apenas valor sentimental para mim poder ser útil para outra pessoa.

- O apego às coisas tem uma forte carga mental e emocional. O desapego, por outro lado, é libertador.

Penso que a melhor solução, tal como o Joshua propõe, é tirar fotografias a este tipo de coisas. Assim, podemos sempre lembrarmo-nos das coisas olhando para as fotos, sem o fardo de termos as coisas fisicamente presentes na nossa vida (onde só ocupam espaço).

15 comentários:

  1. Tive um estojo de lapis que gostava muito, usei por muitos anos, mas como nao estudo mais, ficou lá guardado. Dai tirei foto pra poder lembrar e mandei pra doacao. Alguem mais vai passar uns bons tempos com ele. E eu nao ocupo com ele nem guardo carga sentimental dentro de mim. Pq essa é o que mais pesa.

    Adorei o texto :)

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  2. Magnifico post!
    Obrigada!

    Eu quis propor-me a uma vida minimalista à 1 ano e tal atrás. Doei tanta coisa, deitei fora tanta coisa e rasguei tantas fotos que me enchiam gavetas e papeis inúteis!

    Deitei até coisas fora que tinham esse tal valor sentimental.

    Hoje eu tenho a sensação que sou mais feliz... com menos coisas: que não preciso do armário cheio de roupa, ou a gaveta cheia de fios e pulseiras quando por vezes estou um ano que não coloco aquele fio ou aquela pulseira.

    Mas sinto que ainda estou nessa limpeza.
    Ainda encontro coisas pela casa que acho que estão a mais.

    Hoje em dia quando parto um copo ou algo tem que se deitar fora, eu deito sem pensar 2x.

    As camisolas que ainda tenho a mais na gaveta e que passou um Verão e não as vesti... certamente que alguém estará a precisar delas.

    Nesta vida só precisamos de uma mochila às costas.

    Um dia feliz
    Abraço

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  3. Eu era muito 'tralheira' mas tive que mudar porque o aumento da tralha não era proporcional ai aumento do espaço habitacional. Hoje apenas guardo o essencial e, de vez enquanto, dá-me um fúria e faço limpezas radicais!

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  4. Acompanho o seu blog há algum tempo em "silencio", hoje identifiquei-me tanto com este post que senti vontade de comentar... um mundo seria realmente melhor se em vez de praticarmos o verbo "acumular" praticasse-mos o verbo "partilhar" :) Obrigada por partilhar este post.

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  5. Adorei e compartilhei no Facebook.
    Abraços
    Kathia

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  6. Ohhh.. gostei de ler a historia! e é um belo exemplo.. Obrigado

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  7. Olá,

    Este post está muito bom, adorei!

    Eu tinha tendência para guardar as coisas até ao dia que me cansava e fazia uma limpeza geral (mais ou menos de ano a ano). Hoje em dia tento não acumular muito.

    Uma coisa que a mim me faz confusão é a quantidade de coisas que os homens guardam durante anos. Pelo que vou vendo e ouvindo, os homens gostam de guardar tudo, seja roupa, seja ferramentas. Quando partem alguma coisa deixam numa gaveta porque querem arranjar e um ano depois ainda não arranjaram mas continuam a não querer deitar fora. E conseguir explicar-lhes que determinada coisa pode ir para o lixo?! Impossível!!

    Bjs

    Ana

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  8. Olá Rita,

    Gostei do post. Tenho dificuldade em desapegar-me das coisas, incluindo das que não uso e não servem para nada. Felizmente começo a perceber que mais é menos, e que a felicidade não está nas coisas.
    Bjos

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  9. Olá Rita, bonito post e muito elucidativo! Obg

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  10. Ola Rita,
    Ainda não tinha lido o post completo...
    Vou aplicar as dicas, a das fotos parece me bem!!!
    Daqui a um ano volto para contar a evolução!!!
    Mais dia menos dia vou mudar para uma casa mais pequena e não vai dar p levar tudo comigo!!!
    Não será fácil...mas terá msm de ser!!!

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    Respostas
    1. Olá Rita,
      Reli hoje o Post e ...nunca é demais reler coisas boas e que nos ajudam.
      Acho que a dica de fotografar esses objectos "importantes" seja uma mto boa ideia!!!
      Obgada :)

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  11. Obrigada Rita! O texto está mesmo muito bom! Bjs

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  12. Que inspiração para mim, numa fase em que continuo a destralhar. A nossa casa é grande e como tem muitos quartos, fomos guardando e guardando. Admito que desmotivo volta e meia.Agora tenho este exemplo maravilhoso que me vou lembrar. Obrigada, Rita, por partilhares. És uma inspiração! Aqui e no FB!

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  13. Tenho estado a deliciar-me com o seu blog.Gosto do seu sentido pratico, do seu poder de iniciativa e da sua disciplina.
    A partir deste blog tambem fui parar a sítios praticos e refrescantes.
    Gostei de saber como tantas pessoas se preocupam com o destralhar(palavra admiravel) e até já me sinto mais apoiada na dificil tarefa da deatralhizaçao do meu espaço fisico.
    Hei-de voltar cá mais vezes! zzzz

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  14. Eu sou pouco apegada às coisas materiais. Facilmente faço doações ou deito tudo fora. Quando te comecei a ler, há um ano, fui mais longe: doei e vendi livros, desfiz-me de 2/3 do guarda-roupa (o mesmo com o da minha filha, dou à Igreja), até os tupperwares tiveram destino bem como todos os canais de televisão. Mas tenho um "problema". O meu marido, loool. É daqueles que guarda todas as tshirts desde a faculdade porque dão jeito para qualquer coisa, guarda todos os parafusos porque um dia vão ser precisos (mas, quando temos que pregar algo, vai sempre comprar novos), os livros até sem capa porque são livros, enfim. Eu conseguia viver com a minha familia num T1...temos um T3 e não chega tanta é a acumulação que ele faz... Gosto muito dos teus posts, já o aconselhei mas nem assim...

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Obrigada pelo comentário!

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