Uma das coisas que o Buda nos ensinou é que o apego traz sofrimento. O apego às coisas, o apego ao que queremos, o apego aos resultados que desejamos obter, tudo isso, quando perdemos as coisas ou não conseguimos o que queríamos, é uma fonte de sofrimento. O amor, claro, também é uma forma de apego. Claro que devemos amar, mas também devemos saber praticar o desapego (o "let go" em inglês soa melhor que a versão portuguesa) quando é necessário.
Mas o que eu queria mesmo escrever hoje é sobre o nosso apego aos resultados, à maneira como queremos que as coisas se desenrolem. Por exemplo, quando começamos um novo projecto, de trabalho ou pessoal, temos à partida uma ideia dos resultados que gostaríamos de obter. Quando conhecemos alguém, temos expectativas em relação a essa pessoa. Quando os nosso filhos vão para escola, queremos que eles obtenham um determinado rendimento. E quando as nossas expectativas em relação a nós próprios e aos outros não se concretizam, sofremos. Sofremos porque estamos apegados a um determinado resultado.
A vida torna-se muito mais cor-de-rosa quando nos deixamos de expectativas, quando não temos ideias pré-concebidas, quando não esperamos nada dos outros. Não faz mal termos planos e objectivos para a nossa vida, claro, mas faz mal olharmos só para a meta e não gozarmos o caminho. Faz mal pensar só no futuro e não viver o presente. Faz mal não ser flexível em relação ao mundo. O mundo, as pessoas, a energia, tudo está em constante mudança - uma mente flexível e aberta permite uma melhor adaptação à variabilidade e, claro, pode prevenir grande parte do sofrimento.
As pessoas tiram conclusões demasiado depressa e fazem julgamentos acerca dos outros baseados em muito pouco. Se fulano passou por mim na rua e não me cumprimentou é porque é um malcriado e tem a mania que é melhor que os outros. Nem se põe a hipótese de fulano estar distraído, completamente absorvido pelos seus pensamentos, totalmente focado no seu mundo interior. Se beltrano cometeu uma inconfidência é porque fez de propósito para lixar sicrano. Sicrano nem põe a hipótese de não ter sido intencional por parte de beltrano - não, beltrano é mesquinho e o seu objetivo é deixar os outros mal.
Estes mal-entendidos estão sempre a acontecer. As pessoas tiram conclusões precipitadas, não olham para o outro lado, e, infelizmente, quando não têm os dados todos, assumem sempre o pior - dar o benefício da dúvida parece que caiu em desuso. Será que é por estarmos apegados àquela mentalidade judaico-cristã que nos diz que somos todos pecadores?
Eu não sei o que é, mas acredito que as pessoas são fundamentalmente boas e que o ambiente que as rodeia é que as molda e as leva a agir de outras maneiras. E, por isso, acredito que todos podemos mudar e melhorar, e começar a olhar para os outros e para o mundo de outra forma - de uma forma mais positiva. Sim, há muita coisa má, mas também há muita coisa boa no mundo - e parece que muita pessoas perderam a capacidade de ver a parte boa, de dar o benefício da dúvida, de assumir o melhor em vez do pior.
Considerando que a física quântica nos diz que a nossa consciência cria a nossa própria realidade, o que proponho hoje é treinar a flexibilidade da mente. Durante uns dias, tenta ver sempre o lado positivo das coisas. Não penses no que não tens, mas sim no que tens, e sente-te grato por isso. Não assumas que os outros só querem é lixar-te; tenta olhar pelos olhos dos outros e tenta compreendê-los. Lembra-te que se alguém te falar mal, eles é que têm algum problema, não tu; então, porquê ficares tão chateado com isso? Não te deixes influenciar pela negatividade que há à tua volta; atreve-te a ser diferente e deixa, sim, que a tua positividade influencie os outros. Lembra-te que os seres humanos têm muita bondade cá dentro; cabe a cada um de nós cultivá-la e deixá-la florescer. E, assim, mudar o mundo.
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