11/09/2015

Como conciliar o trabalho e o doutoramento?


Recebi um comentário a este post acerca de como conciliar a realização de uma tese de doutoramento com um trabalho full-time (no caso, de 9 horas diárias). Bem, devo dizer que na minha área, com muito trabalho de campo e de laboratório envolvido, fazer um doutoramento em part-time é praticamente impossível. Mas compreendo que há outras áreas em que poderá ser mais exequível. 

Como em tudo, há que saber, em primeiro lugar, o que é mais importante, e eliminar o resto. Acredito que conseguimos fazer tudo, mas não tudo ao mesmo tempo... Trabalhar full-time, fazer um doutoramento e querer acabá-lo a tempo, e ainda saídas à noite, jantaradas com amigos, idas ao cinema, muito tempo em família, tempo para relaxar e viajar... esqueçam! Por definição, o doutoramento é das fases mais trabalhosas da vida académica. 

Por isso, o que proponho em primeiro lugar é eliminar atividades e responsabilidades que não interessam. Depois, a semana tem 168 horas. Se trabalharmos 9 horas, 5 dias por semana, e dormirmos 8, ainda sobram 67 horas. Se tirarmos 3 horas por dia para refeições, higiene e cuidar da casa, ficamos ainda com 46 horas livres. Mas também temos que descansar... se tirarmos 2 horas por dia para o relax, ainda ficamos com 32 horas semanais  - é quase uma jornada semanal de trabalho. Em cada dia de trabalho ficam 2 horas livres para o doutoramento e 11 horas nos dias de folga. Claro que ninguém quer passar 11 horas num sábado de sol agarrado ao doutoramento, mas é assim que os doutoramentos funcionam. Não é pêra doce, mesmo.

Claro que há coisas que têm que ser eliminadas. Sugadores de tempo como televisão, internet, beber cafezinhos aqui e ali, isso tem que, temporariamente, acabar. Ninguém disse que fazer um doutoramento é fácil, por isso tem que haver um esforço real e intencional para tal. A vida durante o doutoramento não pode ser a mesma que era antes.

Claro que um esforço destes durante muito tempo pode-nos afetar fisicamente e psicologicamente. Há que saber equilibrar as coisas. Se passei o sábado inteirinho de volta da tese, será que tenho que fazer o mesmo no domingo ou será melhor descansar e recarregar baterias? Mas se durante a semana só trabalhei e não peguei na tese, então o fim de semana será dedicado inteiramente a ela. 

Estabelecer dealines também ajuda. O problema deste tipo de trabalho académico é que não costumamos ter deadlines reais, ou as que existem são a longo prazo. É por isso que muitas teses se arrastam durante anos e anos... Podemos estabelecer deadlines para acabar cada capítulo, ou escrever um número mínimo de palavras por dia. 

Quando fiz o meu doutoramento, era doutoranda a tempo inteiro, e teria sido muito complicado de outra forma, mas agora estou a tirar uma segunda licenciatura e também me debato com este tipo de problema - ter tempo para tudo. Eu tenho a vida muito facilitada porque, como investigadora, não pico o ponto, mas de qualqur modo tenho trabalho para fazer e produtividade para mostrar. E, como aluna, comecei logo de início a ter muito boas notas e agora sinto essa pressão para só ter de 18 para cima.

Eu comecei simplesmente a aproveitar melhor todos os momentos. Almoço rápido, não faço pausas para ir ao café (mas faço para esticar as pernas e descansar os olhos, usando o Pomodoro), aponto tudo o que tenho para fazer para não me esquecer de nada, aproveito as horas depois do jantar para estudar ou trabalhar e aproveito os fins de semana. Não gosto de estudar nos dois dias de fim de semana (gosto de ter 24 horas inteirinhas para descansar), mas em altura de frequências já aconteceu. E, sobretudo, mesmo nas alturas mais complicadas, não deixo de tratar de mim e de fazer coisas que são importantes para o meu equilíbrio, como o yoga.

O doutoramento é só uma fase da vida, importante, sim, mas é uma fase. Trabalhosa, às vezes desesperante e frustrante, mas acaba por passar. Nada é permanente...


E tu, fizeste um doutoramento enquanto trabalhavas a tempo inteiro? Como foi?


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12 comentários:

  1. Eu estou a fazer um Mestrado e...é assim como a Rita diz tal e qual. Nem sequer mudo uma vírgula ao que ela disse. É exigente. Muito exigente. Mas não é o fim do mundo...tem a ver com as nossas opções de vida. E é por um bom motivo (pelo menos é assim que penso).

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  2. Olá Rita,
    Obrigada pelas dicas. Eu ainda não fiz a tese de mestrado precisamente porque acho que não sei gerir bem o tempo, o trabalho e a família. Há que fazer opções e estabelecer prioridades.
    Gostei muito das dicas.
    Beijinhos

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  3. Olá, Rita!

    Seus dois últimos posts são de muita utilidade para quem trabalha na área acadêmica. Obrigada por dividir suas experiências!

    Tenho tido dificuldades muito grandes em levar adiante meus estudos de doutorado e vejo que me faltam motivação e disciplina. Até então, sempre tinha sido muito boa aluna.

    Não tenho dificuldade em planejar, mas em me ater ao planejamento feito. Temo também que a autocrítica exarcerbada esteja me atrapalhando. Ao longo dos anos, me tornei uma "binge writer", infelizmente, com períodos muito breves de produtividade seguidos de pausas muito longas, preenchidas com o adiamento das tarefas relativas ao projeto e as preocupações decorrentes disso.

    Talvez o problema mais grave seja a falta de motivação, porque não tenho conseguido enxergar nem propósito, nem perspectiva no que faço. Além disso, escrevo sem qualquer apoio - nem da família, que apenas pergunta se já entreguei ou quando entregarei a tese (desde o primeiro mês!), nem dos meus professores, que rejeitam o meu projeto.

    Não tem sido fácil tentar mudar esta situação de estagnação.

    Abraço,
    L.

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  4. Foi bem corrido e complicado, mas concordo que temos que priorizar certas áreas em alguns momentos de nossas vidas para aproveitar melhor depois.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  5. Olá Rita,
    Faço minhas as palavras do anónimo. Me sinto exatamente na mesma situação e por isso gostei muito das palavras da Rita. Acho que é um tema com muito a se discutir.
    Abraço,
    T.


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  6. Olá Rita!
    Concordo plenamente com tudo... eu só penso no meu Mestrado daqui a uns aninhos pois tenho dois fihos pequenos e uma empresa para gerir e por isso alguma coisa iria ficar prejudicada e como sou seria certamente a parte da casa e tempo com a família.
    Vou esperar até os meus filhos terem autonomia e a minha empresa estar mais estável (pois é praticamente o 2 ano que estou á frente dela) e aí sim irei fazer o que gosto: estudar.
    No entanto continuo a fazer formações desfasadas que me permitem também manter-me atualizada o que acho que toda a gente deveria fazer para não estagnar a nível tanto pessoal como profissional.

    Mais uma vez parabéns pelo blog que no meu caso é uma verdadeira inspiração :)

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  7. Olá Rita!
    Queria agradecer do fundo do coração este post. Nunca fiz nada tão dificil, como organizar o meu tempo entre o doutoramento e o trabalho. Também trabalhei full-time aquando do mestrado e não se compara em nivel de exigência.
    O meu problema é que quando começo a ficar sobrecarregada, entro em stress e sofro de bloqueios mentais que me atrasam imenso o trabalho. É que a trabalhar em hotelaria, a parte psicológica já fica desgastada normalmente, se a isso juntarmos a lide da casa e o doutoramento... acho que conseguem perceber o meu problema.
    Ando a tentar dedicar pelo menos 1hr por dia à tese, mas está a ser complicado consegui-lo todos os dias.
    Mas é sempre bom saber que não sou a única com este problema!

    Força a todas!

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  8. Oi, Rita! Gostei muito do seu post!
    Eu fiz o mestrado trabalhando o dia todo, e minha filha tinha 1ano e meio na época. Foi muito desgastante.
    Agora penso em fazer o doutorado mas temo não dar conta de tudo :(
    Por isso seu post me foi inspirador!
    Obrigada!
    Lis (Brasil)

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  9. No momento o mestrado em que redigir o relatório, trabalhar a tempo inteiro (40h semanais) com estágio (30h semanais), é uma gestão de tempo muito desgastante. E nem sempre a família e amigos compreende estas ausências...

    E nem a propósito este post... recorri ao blog por saber que ia encontrar soluções, dicas, apoio e empatia pelo que estou a passar. É uma inspiração.Grata*

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  10. Olá Rita!
    Um bem haja pelo seu blog.
    Obrigada por partilhar digas de produtividade, organização do tempo, e como conjugar vida pessoal, professional (de investigadora, mãe, e a fazer domesticos e praticas pessoais). Por vezes estamos tão embrulhados no nosso dia a dia que parece que o tempo toma conta de nós em vez de sermos nós a controlar o queremos fazer com o tempo que temos. Hoje em dia existem tantas distracções que nem fácil disciplinarmo-nos e dar prioridade ao que realmente importa.
    Fazer investigação e estabelecer metas próprias é difícil, especialmente quando há muitas coisas que parecem sobrepor-se (vida familiar, filhotes pequenos doentes, etc). Pessoalmente sinto dificuldade em atingir os meus objectivos semanais, por vezes o que planeio para uma semana demora duas semanas ou mais tempo, e depois todas as fases de trabalho seguintes são atrasadas. Este descontrolo temporal desmotiva e dá-me uma certa frustração...que é dificil de explicar a terceiros.
    Obrigada também pela referencia ao "mindfulness". Parabéns pela determinação e espero que continue a reservar parte do seu tempo para partilhar as suas técnicas sobre estas questões e a inspirar os outros.

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  11. Patrícia Carla Chagas16/09/15, 19:24

    Cara Rita, saudações do Brasil!

    Que post excelente! Parece que foi feito pra mim, rsrsrsrs. Me encontro no ultimo período do doutorado e precisarei da prorrogação por mais um tempo justamente por não ter conseguido conciliar as atividades e nem mesmo com uma pequena licença que tirei do meu trabalho. Para mim, a disciplina, determinação e sacrificio sim dos momentos sociais e pessoais é que fazem a diferença e me arrependo muito de não ter me esforçado mais. Ando muito nervosa e preocupada em dar conta, faltam capitulos da tese, mas tentarei seguir com suas sugestões e revendo minhas atitudes. Obrigada. Gosto muito do seu blog, do seu modo de viver.
    Patrícia

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  12. Olá!
    Eu comecei agora o mestrado. Os meus horários vão das 8:20 às 18:30 com almoço pelo meio e aulas das 19:00 às 22:00. Ainda faço voluntariado.
    Neste momento a minha maior dificuldade tem sido a alimentação, mas tenho conseguido eliminar as coisas "que não interessam", relativizar, cuidar do que é mesmo importante e espero conseguir voltar ao Yoga. Não tem sido fácil, mas há que tentar.
    Excelente post!

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Obrigada pelo comentário!

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