09/02/2015

Uma mente flexível

Uma das coisas que o Buda nos ensinou é que o apego traz sofrimento. O apego às coisas, o apego ao que queremos, o apego aos resultados que desejamos obter, tudo isso, quando perdemos as coisas ou não conseguimos o que queríamos, é uma fonte de sofrimento. O amor, claro, também é uma forma de apego. Claro que devemos amar, mas também devemos saber praticar o desapego (o "let go" em inglês soa melhor que a versão portuguesa) quando é necessário.

Mas o que eu queria mesmo escrever hoje é sobre o nosso apego aos resultados, à maneira como queremos que as coisas se desenrolem. Por exemplo, quando começamos um novo projecto, de trabalho ou pessoal, temos à partida uma ideia dos resultados que gostaríamos de obter. Quando conhecemos alguém, temos expectativas em relação a essa pessoa. Quando os nosso filhos vão para escola, queremos que eles obtenham um determinado rendimento. E quando as nossas expectativas em relação a nós próprios e aos outros não se concretizam, sofremos. Sofremos porque estamos apegados a um determinado resultado. 

A vida torna-se muito mais cor-de-rosa quando nos deixamos de expectativas, quando não temos ideias pré-concebidas, quando não esperamos nada dos outros. Não faz mal termos planos e objectivos para a nossa vida, claro, mas faz mal olharmos só para a meta e não gozarmos o caminho. Faz mal pensar só no futuro e não viver o presente. Faz mal não ser flexível em relação ao mundo. O mundo, as pessoas, a energia, tudo está em constante mudança - uma mente flexível e aberta permite uma melhor adaptação à variabilidade e, claro, pode prevenir grande parte do sofrimento.

As pessoas tiram conclusões demasiado depressa e fazem julgamentos acerca dos outros baseados em muito pouco. Se fulano passou por mim na rua e não me cumprimentou é porque é um malcriado e tem a mania que é melhor que os outros. Nem se põe a hipótese de fulano estar distraído, completamente absorvido pelos seus pensamentos, totalmente focado no seu mundo interior. Se beltrano cometeu uma inconfidência é porque fez de propósito para lixar sicrano. Sicrano nem põe a hipótese de não ter sido intencional por parte de beltrano - não, beltrano é mesquinho e o seu objetivo é deixar os outros mal. 

Estes mal-entendidos estão sempre a acontecer. As pessoas tiram conclusões precipitadas, não olham para o outro lado, e, infelizmente, quando não têm os dados todos, assumem sempre o pior - dar o benefício da dúvida parece que caiu em desuso. Será que é por estarmos apegados àquela mentalidade judaico-cristã que nos diz que somos todos pecadores? 

Eu não sei o que é, mas acredito que as pessoas são fundamentalmente boas e que o ambiente que as rodeia é que as molda e as leva a agir de outras maneiras. E, por isso, acredito que todos podemos mudar e melhorar, e começar a olhar para os outros e para o mundo de outra forma - de uma forma mais positiva. Sim, há muita coisa má, mas também há muita coisa boa no mundo - e parece que muita pessoas perderam a capacidade de ver a parte boa, de dar o benefício da dúvida, de assumir o melhor em vez do pior. 

Considerando que a física quântica nos diz que a nossa consciência cria a nossa própria realidade, o que proponho hoje é treinar a flexibilidade da mente. Durante uns dias, tenta ver sempre o lado positivo das coisas. Não penses no que não tens, mas sim no que tens, e sente-te grato por isso. Não assumas que os outros só querem é lixar-te; tenta olhar pelos olhos dos outros e tenta compreendê-los. Lembra-te que se alguém te falar mal, eles é que têm algum problema, não tu; então, porquê ficares tão chateado com isso? Não te deixes influenciar pela negatividade que há à tua volta; atreve-te a ser diferente e deixa, sim, que a tua positividade influencie os outros. Lembra-te que os seres humanos têm muita bondade cá dentro; cabe a cada um de nós cultivá-la e deixá-la florescer. E, assim, mudar o mundo.



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20 comentários:

  1. A última vez que aqui deixei um comentário caíste-me em cima, tu e os outros comentadores. Eu limitei-me a escrever o que sentia, sem maldade, mas fui logo apelidada de invejosa e sei lá mais o quê. Ainda bem que mudaste e que se fosse hoje tentarias ver o meu lado. Fico contente por ti.

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    1. Gostava de saber qual foi esse comentário, pois eu não tenho, nem nunca tive, esse hábito de chamar invejosas às outras pessoas. Eu só "caio em cima" dos leitores quando fazem comentários parvos que mostram que ou não leram o que escrevi, ou leram na diagonal, e tiram conclusões erradas acerca do que escrevi. Isso, sim, irrita-me. Mas eu chamar invejosa a uma leitora do blog, no blog? Nunca. Mas gostava mesmo de saber qual foi esse comentário... Podes indicar o post?

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    2. Já não me lembro qual foi o post, Rita, já foi há uns dois anos. Mas eu não disse que foste tu que me chamaste invejosa, se dizes que não foste não duvido disso! Mas lá que mo chamaram, chamaram.

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  2. Amei o seu texto. Ele trouxe luz para o meu dia. Muito obrigada e beijos do Brasil!

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  3. Um texto inspirador e que nos faz pensar :)
    Beijinhos Rita

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  4. Puxa, Rita! Estive pensando sobre a mesma coisa hoje! <3

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  5. Ola Rita, o seu blogue é muito inspirador. Muito obrigada pela sua partilha. O que vou falar nada tem haver com este tema, mas deixo a sugestão. A Rita faz referencias a livros mas quase todos em inglês e esta língua é o meu calcanhar de Aquiles desde sempre. Poderia fazer um post ou algo do género mas de livros que aconselhe em português? Que livro ler para quem quer iniciar esta vida minimalista? Já faço algumas coisas que menciona mas gostava de saber mais, sou curiosa por natureza...Desejo-lhe tudo de bom...Claudia

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  6. Rita muito obrigada por este post fantástico. A mim fez.me muito bem lê-lo e sinto-me muito grata por isso.
    Beijinhos e boa semana.

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  7. Um post que chega na hora certa. Adorei!

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  8. Simplesmente amei este texto! É coisa que venho implementando cá dentro há um tempo! E olha, ando vendo ótimos resultados. Antes era comum, se uma xícara minha preferida quebrasse, ficar lamuriando. Era puro apego material! Ou, se alguém me tratasse mal, ficar enraivecida com essa pessoa (agora entendo que aí, era bem o ego atuando). Hoje, se uma xícara preferida lasca, esqueço-a na mesma hora e, se der, a reponho, sem dramas. Se uma pessoa não me trata com gentileza, imagino que deve estar passando por um dia ruim ou tempos difíceis e não está conseguindo lidar bem com isso. Como você, Rita, acredito na bondade das pessoas, o que ocorre muitas vezes, é que é difícil essa bondade vir à tona. Nos blindamos dia a dia com armaduras, pois a confiança entre as pessoas, nestes tempos, anda terrivelmente abalada. Mas precisamos reavaliar isto, senão perderemos muito da riqueza que é a interação entre pessoas. Acredito que gestos, atitudes, por mais singelos que sejam, podem mudar um dia ruim de alguém. Um simples sorriso pode desarmar uma pessoa hostil e abrir espaço para a partilha da gentileza.

    Elaine Steffen

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  9. Gostei muito deste texto, é uma luta sempre presente olhar para as coisas de forma positiva e não sermos influenciados pelas interpretações sempre tendencialmente negativas que fazemos do comportamento dos outros!

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  10. Muito bom. Adorei! Agora é só praticar!

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  11. Sem querer, eliminei o comentário da Thalita, em vez de o publicar. Aqui fica:

    "Engraçado, senti-me como a leitora anônima quando li este texto seu, porque eu também fui "alvejada" da última vez que comentei por aqui. Mas estou aqui com outro foco: segui, muito, Rita, por muitos anos, o que está dito no penúltimo parágrafo do seu texto. Minha irmã até me apelidou de Pollyana. E era bom acreditar nessa suposta bondade inerente. Mas hoje, sei não...hoje penso que há pessoas que são más, sim, pessoas que a bondade simplesmente não alcança. Triste, mas é a realidade."

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  12. Olá Rita,
    Concordo com este post... e tento implementar isto no meu dia-a-dia...
    Se tratarmos bem os outros... um simples Bom dia, ou Obrigada ou Se Faz Favor acompanhado de um sorriso... pode fazer milagres e, acalmar alguns maldispostos e carrancudos.
    Se há algo que se partiu ou estragou... alguém se magoou? Se dá para arranjar ok, se não dá... lixo e não se pensa mais no assunto.
    Vendo bem... até nem custa assim tanto...
    Bjs,
    Teresa C.

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  13. É verdade, preocupamo-nos muitos com o final da viagem mas esquecemo-nos que o que vai contar e perdurar é como correu essa viagem e com que sentido. Eu, e já me dizia a minha psicologa há uns ano, sou uma anticipadora: vejo um palito, construo toda uma casa há volta do palito. Sou fantástica a criar possibilidade a partir de um pequeno galho e fixo nas possibilidades e não aproveitar o presente, porque uma das possibilidades há de calhar, portanto agora é esperar e ver o que acontece certo?
    E hoje em dia muito mais calma, ainda sempre a pensar ok aconteceu isto vamos fazer este plano mas vou fazendo e aos poucos ajustando, utilizando aquela ferramenta que a evolução tão gratificamente nos deus, adaptando-nos . Única coisa que eu não consigo controlar isso é quando isso implica perder alguem que gostamos. E ai volta que dê custa, e está a passar-se isso mesmo com a pessoa que amo e não está fácil porque a vida não está fácil para chegar ao que queremos.

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  14. A bíblia já nos ensina no sermão do monte de Jesus que não devemos nos preocupar com nada além do dia de hoje e confiar que Ele nos sustentará.
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.

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  15. Olá Rita, cheguei aqui por acaso, mas não consegui parar de ler o seu post enquanto não o terminei. Concordo tanto com o que escreveu e realmente há tanta verdade nas suas palavras. As pessoas perdem muito tempo a dar importância ao que não tem importância!! E as vezes, mesmo não querendo, somos apanhados nesses enredos!!! Mas é bom, é muito bom ouvir estas palavras de alento, para ver que nós, não estamos errados em tentar melhor o nosso estilo de vida :)
    Obrigado por partilhar, belas palavras :)
    Prazer em conhecê-la ;)

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  16. Ótimo post! Obrigada, a forma como escreve traz muita tranquilidade...

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  17. Oi, Rita. Também não posso deixar de comentar. Adorei o post, e vou tentar ficar bem atenta à proposta que ele faz.
    Beijo.

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  18. Adorei o post! Sabias palavras, me levou a pensar e muito!

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Obrigada pelo comentário!

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