O Tantra é uma corrente espiritual, um
conjunto de práticas que surgiu na Índia há milhares de anos, possivelmente
revelado por Shiva; no entanto, a grande expansão do Tantra deu-se mais tarde,
no século VIII d.C., e a escritura fundamental do Tantra, Kula Arnava Tantra,
surgiu apenas no século XII d.C.
Ao contrário do Vedanta, o Tantra rejeita a
autoridade dos Vedas. Esta corrente surgiu como resposta ao desejo das pessoas
simples, não ligadas a uma vida mais espiritual nos templos, de terem um
sistema prático que lhes permitisse manter a sua fé e cultivar a sua
espiritualidade. O Tantra baseia-se fortemente no princípio feminino, ou seja,
dá muita importância à Deusa, a mãe do Universo, à parte feminina, à energia
feminina, Shakti. A mulher é o mestre no Tantra, o que contrasta com as outras
tradições que giram em torno do masculino. De facto, pode dizer-se que o
Absoluto manifesta-se em duas polaridades: masculina, ligada a Shiva, uma
energia passiva, parada; e feminina, ligada a Shakti, uma energia activa, em
movimento.
O Tantra pretende a integração do eu com
o si mesmo, ou seja, a integração da realidade do corpo com a realidade
espiritual. O ponto de partida para alcançar este objectivo é o corpo. De
facto, para o tantrika, o praticante de Tantra, o corpo é o templo do espírito,
ou seja, é necessário cuidar do corpo, mantê-lo forte e saudável para que o
Absoluto se manifeste. No Tantra procura-se ancorar a realidade corpórea à
busca espiritual; o corpo serve, portanto, de base a esta busca.
No Tantra
Yoga, o principal objectivo é despertar a energia kundalini, Shakti, e fazê-la
subir pela nadi sushumna. A união de Shakti com a energia masculina, Shiva, é,
para o tantrika, uma união divina. Quando as duas energias, feminina e
masculina, se encontram, elas complementam-se, formando uma só realidade.
Os conceitos
de energia kundalini, nadis, chakras, etc., tão presentes no Hatha Yoga, foram
desenvolvidos pelo Tantra. O Tantra Yoga parece, assim, ser uma prática mais
fácil para atingir o Absoluto do que, por exemplo, o Yoga clássico de
Patanjali, que é mais racional e científico, ou o Jnana Yoga, que é mais
abstracto.
No entanto, o tantrika corre o perigo de ficar apegado ao corpo e
dependente do prazer que as práticas tântricas lhe proporcionam. De facto,
desequilíbrios na energia kundalini podem originar graves problemas físicos no
praticante. Por este motivo, a prática do Tantra deve ser sempre acompanhada
por um Mestre; o Tantra dá, inclusive, grande importância à relação
Mestre-Discípulo, pois as práticas têm perigos que o praticante, sozinho,
poderá não conseguir ultrapassar.
A entoação de mantras é prática comum no
Tantra Yoga para fazer subir a kundalini, sendo uma técnica que liberta a mente
dos pensamentos e preocupações. Os mantras são sons carregados de poder sagrado
que representam uma expressão de uma consciência mais evoluída. De acordo com o
Tantra, o mantra pode ter um de três objectivos: a) pacificar as forças do
Universo, isto é, manter o Universo em paz; b) adquirir coisas através de
magia; e c) promover a identificação do praticante com um determinado aspecto
da realidade (uma divindade, o cosmos, qualquer coisa).
Os yantras, símbolos
geométricos (semelhantes aos mandalas do budismo, mas não tão circulares e
simétricos), são também usados no Tantra Yoga para entrar em estados
meditativos.
Existem cinco rituais no Tantra Yoga, os
5 M’s, também conhecidos por Panchamakara: Madya (vinho), Matsya (peixe), Mamsa
(carne), Mudra (cereais) e Maithuna (coito). Os textos antigos onde estes
rituais foram descritos eram de difícil compreensão e isso originou diferentes
interpretações do seu significado, o que se traduziu no surgimento de duas
escolas distintas de Tantra: a escola da mão direita e a escola da mão
esquerda.
A escola da mão direita acredita que estes textos antigos estão
codificados, não podendo os escritos ser levados à letra. Assim, os tantrikas
da mão direita acreditam, por exemplo, que Madya significa ficar embriagado com
o absoluto, Matsya é um símbolo do conhecimento e Mamsa é uma união espiritual
do feminino e masculino.
Os adeptos da escola da mão esquerda
interpretam de forma mais literal os textos. Assim, por exemplo, Maithuna é a
relação sexual entre o homem e a mulher. A faceta mais conhecida do Tantra no
mundo ocidental, o sexo tântrico, é um desses rituais realizados pela escola da
mão esquerda, que vê a união sexual entre homem e mulher como um acto divino,
uma forma de espiritualidade. O sexo tântrico é também conhecido por ser mais
prolongado (3-6 horas), pois os tantrikas desenvolveram técnicas para não
perder o esperma, visto que a ejaculação é sinónimo de perda de energia. À
mulher é permitido atingir o orgasmo, mas não ao homem; assim, as técnicas para
conter o sémen permitem que a relação sexual dure horas e seja atingido o
êxtase, mas não o orgasmo.
O problema dos adeptos da escola da mão esquerda é o
desenvolvimento de dependências, quer de sexo, quer de substâncias
alucinogénicas que são usadas nos rituais. Os tantrikas acreditam também que
cada pessoa tem oito gotas de ojas no corpo, sendo o ojas o elixir da imortalidade,
o néctar da vida; o sémen faz aumentar a produção de ojas, e daí o motivo para
não haver ejaculação. Estes rituais tântricos têm como objectivo tornar o corpo
do praticante no corpo de uma divindade escolhida.
O Tantra foi ainda a primeira escola a preocupar-se
com o desenvolvimento dos poderes psíquicos, os Siddhis. No Yoga clássico e
Vedanta, os Siddhis são algo que se deve ultrapassar, mas os tantrikas querem
ter Siddhis, pois estes poderes permitem-lhes alcançar os seus objectivos
espirituais de forma mais rápida.
Interessante!!
ResponderEliminarGosto do seu blog e suas dicas, mas, acho que ele perdeu a essência dele que era sobre minimalismo, você só tem falado muito sobre yoga etc... Mas, o blog é seu, pode falar do que você quiser.
ResponderEliminarAbraços
É isso mesmo! E quem quiser ler, lê, não não quiser, não lê. Mas eu não tenho falado só sobre yoga, se verificar bem os últimos posts...
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