O Yoga pode ser definido como um método
essencialmente prático que conduz ao Samadhi, um estado de super-consciência,
que permite ao yogi uma descoberta de si mesmo, do seu “eu” essencial.
No
entanto, a palavra Yoga pode ter significados distintos. De acordo com a
filosofia yoguica dos períodos pré-clássico e pós-clássico, Yoga traduz-se por
“união”; porém, durante o período clássico associado a Patanjali e à sua
colecção de aforismos Yoga Sutras, Yoga entende-se como “separação”. Patanjali
define ainda Yoga como a cessação das flutuações da consciência.
A descoberta do “eu” essencial traduz um
estado de Samadhi, o qual representa uma experiência psico-mental na qual o
sentido da individualidade é perdido. É, basicamente, um estado de felicidade.
O Yoga proporciona ao yogi as ferramentas para criar uma felicidade que vem de
dentro e que não é influenciada por factores externos.
No entanto, a busca do absoluto pelo
yogi é dificultada pela existência do ego. Quanto maior o ego, maior é a
separação entre o indivíduo e o todo. O ego acentua a individualidade e dá ao
praticante uma visão estreita da realidade. O yogi trabalha no sentido de
superar o ego e, assim, tomar consciência de si mesmo. No fundo, o Yoga permite
ao praticante uma viagem de volta à sua consciência.
De acordo com o Vedanta, todo o Universo
é Maya, a ilusão cósmica, isto é, a vida em si é uma ilusão. O yogi tenta
superar esta ilusão. Para tal, precisa de trabalhar o desapego, Vairagya. O
apego às coisas e pessoas é o que provoca o sofrimento e a dor, uma vez que nos
identificamos com a realidade que os nossos sentidos sentem. Não são os outros,
mas sim cada pessoa é que é responsável pelo seu sofrimento.
Tendo conhecimento
deste facto, o ego pode então ser superado pelo yogi, através das práticas do
Asana (posturas psico-físicas), Pranayama (respiração), Dhyana (meditação), etc., e assim atingir o Samadhi. Esta é uma viagem
interior, ou seja, uma experiência de entasis, em oposição a experiências de
extasis que são conseguidas através de outras práticas como, por exemplo, o
xamanismo.
Voltando ao significado da palavra Yoga,
a “união” refere-se à união do indivíduo com o todo, o microcosmos com o macrocosmos.
O conceito de Yoga como “separação” do período clássico refere-se à separação
da natureza e do espírito. A natureza (Prakriti) e o espírito (Purusha) estão
presentes em cada pessoa. No fundo, o espírito diverte-se na natureza, no que é
denominado de Lila, o jogo cósmico. O Yoga permite ao praticante a separação
destes dois componentes, ou seja, permite ao yogi estar na presença do “si”
próprio, da sua própria consciência. Esta separação de Purusha e Prakriti
conduz ao Kaivalya ou Moksha, um estado de felicidade permanente.
Kaivalya é, no fundo, um estado
permanente de Samadhi. É semelhante ao conceito de Nirvana do Budismo. Em
termos práticos, Kaivalya é a descoberta e manutenção de um estado de
felicidade que já existe dentro de cada pessoa. É uma libertação do ego, do
materialismo e de tudo aquilo a que o ser humano se apega.
Para saber mais:
Olá Rita. Todos os teus posts são muito interessantes e com perspetiva prática muito relevante. Este também, mas como toca pontos de cariz filosófico, abre caminho para o debate.
ResponderEliminarNão sei se era essa a intenção quando o escreveste, nem se estás prái virada.
Mas se quiseres esclarecer melhor o tema, podias explicar de que modo a vida é «maya», ilusão?
O que é isso de ilusão cósmica?
Se a ilusão é «cósmica», o que é que não é ilusão? (só podemos saber que existe «ilusão» se tivermos «não ilusão» para comparar, não é?).
Mais uma vez obrigado e boa semana.
Mário R.
Olá Mário,
EliminarEste texto foi um trabalho de casa que tive que fazer durante o curso de instrutora de yoga. Em baixo segue um texto copiado que explica um pouco melhor o que é Maya:
In the school of Vedānta, Brahman is the only reality, and the world, as it appears, is illusory. As Brahman is the sole reality, it cannot be said to possess any attributes whatsoever. An illusory power of Brahman called Māyā causes the world to arise. Ignorance of this reality is the cause of all suffering in the world and only upon true knowledge of Brahman can liberation be attained. When a person tries to know Brahman through his mind, due to the influence of Māyā, Brahman appears as God (Ishvara), separate from the world and from the individual. In reality, there is no difference between the individual soul jīvātman (see Atman) and Brahman. Liberation lies in knowing the reality of this non-difference (i.e. a-dvaita, "non-duality"). Thus, the path to liberation is finally only through knowledge (jñāna).
Obrigado.
EliminarOM Shanti.
Mário R.