17/07/2015

O essencial socialmente

Tenho andado a rever alguns emails de leitores, muito interessantes, onde reflectem e me pedem para reflectir acerca de determinado assunto. Hoje encontrei um email da Ana, que me escreveu o seguinte:

"Como se minimiza pessoas? A sociedade? A Família? Os amigos? Sem magoar e nos afastarmos das pessoas?

Estamos numa sociedade com rotinas festivas, os exagerados almoços domingueiros de família (com muuuita comida e que no mínimo termina ao jantar). As festas de aniversários, festas religiosas e jantares só porque é bom comemorar qualquer coisa...

Como se minimiza estes exageros? Aniversários, exagero de prendas = consumismo = tralha, que muitas vezes são encostadas para um canto qualquer da casa.

Entre os aniversários, festas religiosas, casamentos, baptismos, 1º comunhão, Páscoa, Natal, etc., passamos o ano a festejar a consumir e a gastar dinheiro. 

O povo português está constantemente em festas, eu sozinha não vou conseguir mudar isso. Como se faz uma gestão de tempo, disponibilidade e de dinheiros? Eu falo por mim, sinto-me exausta, desde o natal não tenho parado, entre festas, jantares, aniversários, e já a fazer contas para a Páscoa em Abril e comunhões em Maio e Casamentos e Baptizados no verão. 

A minha família, os meus amigos, estamos inseridos nesta realidade, e verdade seja dita, "sou mal vista" se for mal vestida e se não der boas prendas, e sou criticada e acusada se não for.

O meu essencial é semana a trabalhar, não ir para lado nenhum ao fim de semana... 

Mas se me afastar das pessoas deixo de estar presente..."

Muito obrigada Ana pelo email! Este deu-me que pensar!...

Quando leio estes testemunhos fico sempre com uma sensação de que vim de outro planeta. Ou será que sou afortunada por nunca ter tido estas experiências? Mas vamos por partes.

Eu venho de uma família pequena (a paterna, com quem lidava mais durante os meus primeiros 18 anos de vida em Lisboa) e não muito dada a grandes convívios. Eu, filha única, os meus pais, avó, tia-avó e tio-avô. Aos domingos almoçávamos sempre os seis, num restaurante em Lisboa ou, se estivesse bom tempo, passávamos o dia em casa da minha avó em Oeiras. De vez em quando algumas amigas da minha avó juntavam-se a nós; algumas tinham netos da minha idade e era divertido. 

Desde pequena também ia, de vez em quando, a concertos de música clássica, sobretudo na Gulbenkian, com a minha avó e tios-avós. Também passava parte das férias em Oeiras ou nas Caldas da Rainha, terra da minha família paterna, e eram férias calmas, onde fazíamos alguma (pouca) praia, passeávamos pelo lindíssimo Oeste português, e eu lia muito. Há que ver que essa parte da minha família era composta por intelectuais de esquerda - e parece-me que todos eles eram introvertidos, tal com eu.

Sendo uma família pequena, os casamentos a que fui, de primos afastados, contam-se pelos dedos de uma mão. Os meus pais também não são muito amigos de festas, e tentam escapulir-se sempre que possível. Podia continuar aqui a contar episódios da minha infância, mas acho que já deu para perceber que a minha existência foi calma, rodeada de pouca gente e pouca confusão, e as atividades culturais foram sempre as privilegiadas. Usando as expressões da Ana, nunca tive exagerados almoços domingueiros de família, nem festas de aniversário ou jantares só porque é bom comemorar alguma coisa, e muito menos festas religiosas (família ateia). Não sei se o povo português está constantemente em festa, mas eu certamente que nunca estive!

A minha família materna alentejana/algarvia é um pouco diferente. É maior, tenho primos-irmãos, e era muito giro quando nos juntávamos todos em casa dos meus avós em Faro, durante o Natal. Aí sim, havia sempre almoços e jantares com muita gente e muita comida - mas era coisa que durava apenas uns dias e eram ocasiões especiais. 

Não sei o que é que teve mais influência, a natureza ou a educação (a velha discussão nature vs. nurture), mas o facto é que eu sempre fui uma pessoa que gosta de estar sossegada - gosto de estar sozinha, sou capaz de passar um dia inteiro a ler, não me faz confusão nenhuma ir ao cinema, a um concerto ou jantar fora sozinha. Nunca gostei de grandes ajuntamentos de pessoas, nem de festas, nem desses almoços em família que se prolongam até ao jantar. Por exemplo, hoje em dia, quando temos convívios no futebol (e temos muitos!), eu costumo ser a primeira a ir embora.

Lembro-me de umas férias em Espanha, já eu estava na Universidade, devia ter uns 18-19 anos, quando uma amiga da minha avó se virou para mim e perguntou-me, com ar sabedor, "Rita, tu gostas de ter uma vida simples, não gostas?". Na altura nem percebi o porquê da pergunta nem achei que fizesse muito sentido - eu, vida simples? O que é isso de uma vida simples e porque é que ela acha que eu gosto disso? Claro que agora faz todo o sentido...

Acho que tive muita sorte, essa é que é a verdade. Mais uma vez, não sei se é da natureza ou da educação, mas não consigo imaginar-me no meio de uma dessas grandes famílias com grandes almoços, muita gente, muitas festas, obrigações de dar prendas, de estar sempre presente... A família do J. também não é assim. Ele até gosta de um ou outro almoço ou jantar com o pessoal, mas tudo com conta, peso e medida. Ainda no outro dia falámos em convidar um casal amigo para vir almoçar cá à praia e eu sugeri convidar também outro casal (cada casal com 2 filhos), e o J. achou gente a mais. Portanto, a minha vida atual continua a não incluir grandes festas, almoços, jantaradas ou outros convívios.

Posto isto, nem sei como responder à pergunta da Ana "Como se minimiza estes exageros?" - eu nunca tive estes "exageros" na minha vida, por isso nunca tive que os minimizar. O que tenho percebido e aprendido desde que comecei a estudar psicologia é que esta nossa sociedade ocidental é feita de pessoas extrovertidas - daí estarmos sempre em festa. E é bem verdade que os introvertidos, como eu, são muitas vezes mal vistos - chamam-nos anti-sociais, bichos do mato e afins. Mas eu quero lá saber! 

Bom, este post já vai longo e nem respondi às questões da Ana... O que posso dizer, se agora me encontrasse numa situação como a dela, se agora me visse rodeada de gente e de festas "obrigatórias", é que tem que haver respeito. Há pessoas que gostam de andar sempre em festa, há pessoas que não gostam. Se para uns é ofensivo alguém faltar a uma festa de família, para mim também pode ser ofensivo acharem que tenho obrigação de andar sempre nesta roda do consumismo. Se os meus amigos e familiares gostam de mim e me respeitam, não têm que ficar ofendidos se eu não estiver sempre presente em todas as festas, em todos os convívios. Se ficam ofendidos com isso, se não respeitam as minhas opções, então para quê tê-los na minha vida? Se as pessoas, mesmo sendo familiares ou amigos próximos, me "obrigam" a ter um estilo de vida que me cansa, que me deixa exausta, e que até me pode trazer infelicidade, então para quê insistir nestes relacionamentos? 

Pode ser radical, irrealista (mais uma vez, nunca tive estes "exageros" na minha vida), mas é assim que vejo as coisas... E como eliminar aquilo que, para mim, não é essencial? Dizendo não! Mas claro que a maioria das pessoas não é capaz de dizer não, com receio de ofender os outros... 

A Ana diz "A minha família, os meus amigos, estamos inseridos nesta realidade, e verdade seja dita, "sou mal vista" se for mal vestida e se não der boas prendas, e sou criticada e acusada se não for."  Isto para mim jamais seria um problema - pessoas que me criticam e acusam por eu andar mal vestida ou por não dar boas prendas, não têm lugar na minha vida. É tão simples quanto isso.

E tu, o que achas desta temática do essencial "socialmente"?


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22 comentários:

  1. Gostei do post, ultimamente também me tenho sentido assim e vejo que algumas vezes tive alguns problemas em dizer que não. Por estranho que pareça eu também sou introvertida, sossegada, passo muitas horas sozinha e gosto de ter uma vida calma. Muitas das vezes vou a eventos (e ultimamente parecem cada vez mais) porque sinto que se não for posso estar a perder alguns momentos bons mas é verdade que tudo isso exige muito tempo, dinheiro e vontade. Tenho tentado equilibrar as coisas e dizer não quando sinto que preciso de espaço e tempo para mim.

    Estou de acordo com a Rita, acho que ninguém tem de concordar com o nosso estilo de vida, mas pelo menos tentar respeitar, e se gostarem verdadeiramente de nós de certeza que respeitam. Foi a sociedade que foi evoluindo assim mas não há certo e errado, o que interessa é o que nos faz bem.

    Bom fim-de-semana! :)

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  2. eu tenho as duas coisas...

    e fiquei com uma ideia diferente e acho que vou deixar a Rita a pensar mais um bocadinho:

    eu acho que a Ana queria saber como lidar com os afectos e emoções; pronto digo não e depois?
    depois vêm os ditos, as más línguas, as conversas nas costas, os olhares de lado, os confrontos directos depois de cortar o bolo..." então tu agora és importante e não ligas a ninguém?" é mais deste género e dizer não a estas pessoas não é fácil.

    dissemos não e agora? estamos mais sossegados mas queremos saber das pessoas porque nos importamos mas as pessoas agora estão diferentes...

    algumas pessoas estão magoadas, outras não querem saber, umas choram e fazem chantagem..." desde pequenina e agora é isto?"

    as minhas relações familiares davam muito que escrever ao Gabriel Garcia Marques :)

    a Rita teve uma vida abençoada e diferente. e acho que a Ana quer sair sem magoar ninguém e sem lhe cair a família em cima...boa sorte Ana e Coragem!

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  3. Olá Rita, quase nunca comento mas sou uma leitora assídua.
    E este assunto post não poderia ficar sem um comentário/opinião da minha parte.

    Para começar, devo acrescentar que não sou uma minimalista assumida, faço sim, concessões, cedências e sem esforço ou sacrifício vou adaptando ao meu/nosso estilo de vida familiar (não sou uma ilha).
    Agora sim, antes de minimizar socialmente, minimizei internamente e isso foi um processo que demorou (é contínuo) mas que deu os seus frutos. Dei por mim a não me ralar (nem encontro melhor termo) com o que A, B ou C poderiam pensar/achar/julgar de não ter comparecido numa festa, de não os ter convidado para a festa da minha filha, de não aceitar compactuar com o consumismo desenfreado das festividades anuais (decidimos não trocar presentes de Natal com os adultos no Natal e somos o único casal a fazê-lo na família) e com isto quero, se possível, responder à Ana que tudo parte de uma mudança interior, quando esta mudança estiver estabelecida, nada poderá afectar o que já se instalou, nem sequer abalar esses fortes alicerces.

    Posso inclusive adiantar, resumidamente, que duas das pessoas mais importantes da minha vida são conflituosas e muito negativas, propensas a discussões, a faltas de respeito e mesmo sendo o meu Pai e a minha Mãe, deixei simplesmente de conviver com eles. É claro que os visito (muito raramente) mas não me permito a visitas semanais nem sequer mensais. Se serei fria e distante? Talvez, aos julgamentos de muitos, sim. No entanto, sinto-me bem. Sem remorsos, culpas, arrependimentos e isso é fundamental para se estar e sentir em paz.

    Desculpe o testamento.

    Mimos ;)

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  4. Li um artigo essa semana que tem tudo a ver com esse post: http://www.papodehomem.com.br/prisao-os-outros

    É difícil dizer não, tem um custo emocional grande ter que lidar com as cobranças. Acho que a Ana tem que resolver isso dentro dela primeiro. E não existe unanimidade, a gente nunca consegue agradar a todos. Então quem sabe começar agradando a gente mesmo?

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  5. Embora não seja costume, este post foi lido a 2. E os dois revemo-nos nos problemas da Ana. No entanto, somos uns atadinhos de primeira água e ainda não ganhamos a coragem necessária para dizer não mais vezes. Mas já faltou mais. Porque a escolha tem tanto de simples como de complicada. Ou seja, é escolher entre:
    1- dizer sim, agradar aos outros e regressar a casa a sentirmo-nos mal por termos perdido tempo, dinheiro e energia em coisas que não temos interesse.
    2- dizer não, agradar apenas a nós e regressar a casa com a sensação de que deixamos tristes aqueles de quem gostamos.
    Teoricamente a escolha seria simples, se na opção 1 tudo são factos, na opção 2 há algo de hipotético (na realidade os outros podem até compreeder-nos) pelo que mais vale segur a opção 1. No entanto, fruto da educação que recebemos, a mera hipotese tem sido o suficiente para nos manter neste registo de agradar mais aos outros que a nós mesmos (será isto o bom cristão? lol).
    Em suma, Ana não estás sozinha. Como vês somos 2 e mesmo assim nada fazemos. Assim sendo, aqui fica a nossa tentativa de te ajudar, sob a forma de desafio. Pensa assim: vou ser mais corajosa que aquele casal de atadinhos :p
    Oxalá consigas!

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  6. Rute Porem17/07/15, 18:07

    Nenhum de nós é uma ilha...mas por outro lado tambem não precisamos de estar atolados em relações pessoais e tudo o que acarreta. No meu caso, apesar de na minha familia termos pouco contactos em convivio, no caso da familia do meu marido a historia é semelhante ao testumunho da Ana.
    E eu com o tempo tenho vindo a refrear a minha presença nesses convivios infinitos. Claro que depois , há o reverso da medalha, dos comentários e "caras feias". Mas, esse é um preço que prefiro pagar, a chegar ao final de um dia desses convivios e achar que o meu precioso tempo foi desprediçado.

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  7. Gostei do post. Tb nunca comento aqui.
    Sou um pouco de tudo. Gosto de ficar em casa, quieta no meu mundinho, mas tb gosto de, vez por outra sair com amigas, encontrar minha mãe.... Ela diz que sou a mais distante, mais ausente dos filhos, mas nem por isso deixo de ama-la. Moramos perto demais.
    De um tempo para cá tenho encontrado mais com ela, pois vamos à missa juntas e depois lanchar.
    Por não ser tão presente na vida dela, como ela gostaria, fico com um pouco de remorso, pois ela tem 90 anos e pelo andar normal da vida, ela não terá tantos anos a mais.
    Sei que posso até ir antes, mas a probabilidade não é essa.
    Quanto às amigas, se não posso encontra-las me faço presente por telefone, emails e até WhatsApp.
    Nem tanto e nem tão pouco.
    Bjs.

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  8. Olá, Rita
    Realmente, cada pessoa é um Universo diferente. Gostei muito da tua resposta. Na verdade, até senti alívio quando a li, por oposição à ideia das obrigações sociais.

    Partilho o meu testemunho também :)

    Muito do meu trabalho inclui falar para grupos de pessoas, e adoro fazê-lo na mesma medida que adoro o momento em que agradeço, me despeço, e regresso a casa, à minha pacatez. Sinto-me um pouco como uma eremita que passa muito tempo em isolamento, a ler, estudar, meditar, e, ocasionalmente, sai da caverna para dar cursos, consultas ou fazer terapias.

    Sou capaz de estar mais de 1 semana em casa, sem sair. E perco-me cá dentro. Não que a casa seja muito grande, mas porque viajo imenso nos meus pensamentos. Abdicar das minhas viagens para convívios forçados não é ideia que me atraia.

    Estar várias horas rodeada de bastantes pessoas é energeticamente muito desgastante para mim. Sabe-me bem o silêncio absoluto, estar a ler até me apetecer, a cuidar das plantas, ou outra coisa qualquer que implique simplicidade e prazer.

    Tenho, por vezes, momentos em que gosto de sair, e de música alta, mas a maior parte do tempo é na pacatez que prefiro estar. Não tenho relações familiares, com excepção do meu filho e do meu companheiro, o que me liberta de estar a engolir sapos e a sentir-me obrigada ao que quer que seja. As poucas vezes em que convivo com alguém é porque realmente sinto sintonia com a pessoa, e nunca por obrigação.

    Beijinhos :)

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  9. Gostei muito deste post, para mim tb nao se coloca esta questao mas colocam-se outras, para mim nao ha nada pior do que gente que pergunta pergunta pergunta coisas pessoais com a maior naturalidade possivel: ja mudaste de casa? que faz o teu marido? afinal vais para onde de ferias? os teus filhos sao todos do mesmo pai (tenho 4)?

    Sera que sou eu que sou anti social ou sera que as pessoas deviam ter educacao suficiente? as vezes nao sei como nao ser mal educada, como se diz a um chefe que desculpe la mas n tem nada a ver para onde eu vou viver ou se tenho casa ou o que o meu marido faz.

    As pessoas adoram saber da vida dos outros, opinar e julgar e ficam muito frustradas quando as outras nao lhes contam tudo porque 'tu' eh que es mal educada 'tu' eh q estas de mal com a vida para nao responderes ao que elas querem.

    Este blog eh especialja o lid e fio a pavio e agora que me vou mudar para outro pais tenhod e o reler para reduzir as coisas da minha futura casa ao minimo e deixar de passar a vida a cuidar de coisas.

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  10. Eu tenho uma família grande. Somos 6 irmãos. Gostamos de nos juntar nas épocas festivas pois vivemos longe uns dos outros. Tivemos a sorte de ser educados por uns pais que nos ensinaram o significado e a importância do respeito pelos outros. Ninguém se preocupa com o que os outros vestem, se dão prendas ou não. O que importa é estarmos juntos se quisermos, mas se alguém quer ficar no seu canto apenas procuramos saber se está bem.
    A verdade é que houve alturas complicadas mas sentimos que graças aos pais que nos educaram

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  11. Excelente reflexão! Penso exatamente o mesmo! A propósito recomendo a leitura deste livro: SILENCIO de Susan Cain
    Maria Celina

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  12. Pior so uns familiares se terem chateado comigo e termos deixado de conviver e de falar por acharem que eu lhes deveria telefonar perguntar como estão e sobretudo para contar a minha vida...Resolvi muito facilmente a questão: Se não me aceitam como sou então acabemos com hipocrisias e sairam da minha vida...sao os pais do meu companheiro...

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  13. Gostei tanto do post como dos comentários e acho que as questões que envolvem familiares e amigos nem sempre são fáceis (as pessoas contam as coisas boas mas nem sempre falam das situações mais difíceis). Também sinto na pele o afastamento de pessoas que me são queridas mas quando se cobra, acusa, se quer ter a razão toda, o que os outros fazem é que está errado e não se sabe seguir em frente sem ver dramas, ofensas, enfim, não há outra coisa a fazer senão o afastamento. Eu que sou uma pessoa simples, para mim os dramas são as guerras, fome, situações extremas (abandono, pobreza, deficiências graves, violência...), por isso não entendo como se podem inventar crises de coisas tão pouco importantes. Se amamos, respeitamos, se erramos pedimos desculpa e seguimos em frente, that simple. Por dentro fiquei muito triste com a situação (ainda fico às vezes porque o afastamento dói), mas sinto que vemos agora a vida de forma diferente e não adianta privar com pessoas que nos fazem sofrer. Mesmo familiares ou amigos.
    Ora aqui está um tópico para mais umas achegas...
    Beijinhos
    Ana Martins
    Ajuda

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  14. :) Olá.

    Mudei-me recentemente e a verdade é que a mudança de um país para outro leva a uma minimização das relações familiares e de amizade sem que seja necessário acrescentar muito mais...

    No entanto... para quem não vai mudar de País... acredito que o facto de sabermos o que queremos nos dará a força para dizer não a alguns dos compromissos e agirmos da forma que nos faz mais sentido... dar ou não prendas...

    Acho que planear... pode ajudar... que festas costumam existir? algumas sobrepõem-se em termos de importância, outras talvez não.... comecemos por excolher por aí e analisar as relações que temos com os intervenientes das mesmas e fazer uma medição de... gosto de estar com a pessoa ou não, temos interesses em comum ou não, temos conversas inteligentes ou bem humoradas que me fazem bem e quero ter...

    Talvez seja muito racional... ou não...

    A alimentação quando muda... também pode ajudar.... podemos passar por esquisitos mas a verdade é que renunciar a alguns petiscos que nos fazem mal e para os quais não há alternativas pode se traduzir num alívio para a nossa agenda social.

    Fazer convívios em que se tirem as pessoas da sua linha de conforto.... se somos convidados a toda a hora para eventos... será que na mesma medida as pessoas viriam a algo promovido por nós e tendo em conta as nossas regras...

    É mais fácil aguentar dois ou três "lanches" dentro de casa do que fora dela e talvez aí as coisas mudem de figura até para quem costuma ser um extremo conviva, afinal de contas outra logística passa a estar do lado de lá....

    De resto acho que o essencial foi dito... se soubermos a razão porque estamos a dizer não e esta nos traz paz e nos sentimos bem com ela... não temos de ficar mal porque alguém nos cobra essa mesma presença ou tipo de presença...

    Aliás começar a dar prendas com maior significado ou feitas por nós próprios também podem ser motivadoras de ser convidados ou não para determinada ocasião (mas acho que estou a ver as coisas pelo lado mais consumista mesmo...)

    Nem tudo é tão radical...

    Enfim, outra situação é mesmo a da mudança... mudar de País influencia as relações... temos menos beijos, abraços e cheiros que nos fazem falta... entre tantas outras coisas... mas também traz mais qualidade... e aprendizagem nas relações... passei a falar mais com os meus pais e a ter a capacidade de perguntar coisas com mais significado...as quais antes não eram tão importantes porque se estava perto e por perto...

    Por vezes é bom pensar... daqui a 6 meses o que quero para mim? O que é que daqui a 6 meses vai ser importante para mim? O que é que quero levar e deixar cá através da minha vivência a mim e aos outros?

    O exercício pode ser feito em qualquer horizonte temporal e por vezes ajuda-nos a reflectir sobre o que queremos e o que não queremos de todo no nosso dia a dia e o que é importante para nós.

    Li que o processo de minimizar é um processo constante... e por vezes apenas nos esquecemos de refazer este processo que tanto nos pode dar de tempos a tempos....

    Grata pelas partilhas...

    AS

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  15. A questão familiar é sempre complicada já que envolve uma grande carga emocional. Tal como a Ana e tantos outros também eu fui criada com os ajuntamentos familiares e toda a pressão criada à volta. Se é , sefácil, nunca foi.

    No meu caso como estudei fora, deu para conhecer outras formas de vida ... e como sabia bem poder respirar .

    Quando regressei a casa dos meus pais, tornou-se um sufoco, e comecei a dizer não. Se fui criticada, claro que sim, mas precisei de dosear os convívios familiares até porque a negatividade também me estava a afectar.

    Não sou minimalista, mas ao longo dos anos senti a necessidade de simplificar a minha vida. É um processo contínuo que vem naturalmente quando começamos a destralhar fisicamente, só depois vem a parte das prendas e consumismo. Aliás a parte boa da crise, para mim, foi poder finalmente ter posto um ponto final nas prendas de Natal, acabaram-se as obrigações! A seguir veio a parte dos relacionamentos. Se é tóxico, o afastamento é o primeiro passo, para se poder avaliar se vale a pena manter esse relacionamento.

    No meu caso, durante anos via a família alargada uma vez por ano e chegava, agora por vezes duas a três vezes e acabaram as pressões e os julgamentos, as prendas, etc.! Mas ainda não me livrei dos almoços de Domingo em casa dos meus pais, mas por vezes também digo que preciso de uma folga!

    É sempre um processo contínuo ...

    Bjs.
    Paula

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  16. Bom dia! como muitos que li também raramente comento. Mas sinto que devo partilhar a minha experiencia!
    Sou a mais nova de três irmãos. Estamos todos juntos em casa dos meus pais pelo menos uma vez por semana. Ao todo somos 14 pessoas! Para mim, para o meu companheiro, para os meus irmãos e os meus pais, é uma alegria gigante! Cansativo, sim, sem dúvida! Quando há discussões é triste. Mas em 90% das vezes é divinal. Tenho noção, ou sinto-me, abençoada, por ter uns pais que nos deram tanto, principalmente este sentido de valorizar a familia, mas principalmente porque individualmente cada um de nós é um, modéstia à parte, um espectáculo. Somos boas pessoas e divertidas. Com um sentido de humor próprio e com sentido de protecção e entre ajuda acima do normal. Sou mega fã da minha familia.
    É claro que nem sempre foi assim. Na minha adolescência e jovem adulta, as coisas não eram maravilhosas. Mas hoje encontramos uma harmonia.
    Acho que isto é muito influência por um cem número de coisas. O ser que os nossos pais são, o modo como eles foram educados, individualmente e como nos educaram a nós, se temos ou não irmãos. O modo como nós próprios somos. Onde crescemos. Enfim.

    Ana, é sem dúvida por vezes, muito angustiante. Acho que o truque passa por ser mais honesta consigo mesma e com eles. "Lamento, hoje não vou poder ir, quero estar comigo.". Podem até não entender e "mandar" bocas à primeira. Mas se a amarem certamente que com o tempo chegam lá! :) Beijinhos grnades e força **

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  17. Eu acho que há alguma confusão entre pessoas e eventos. Não temos de nos desligar de todos só porque os eventos e as solicitações estão cada vez mais complicadas. Nós tínhamos esse problema. As pessoas esperavam que tivessemos sempre a mesma rotina, os almoços de domingo, etc etc. Chegámos a um meio termo. Cortámos com a rotina que eu pessoalmente detesto e me deixa nervosa e umas vezes vamos e outras não, consoante nos apetece. Festas de anos e afins são muito bem vindas mas tal como não espero grandes presentes, também não os dou. Sou capaz de fazer um bolo, pedir à filhota para pintar um quadro, etc. Quem gostar gosta, quem não gostar temos pena. Cansei-me de receber prendas inúteis que me atravancam a casa e deixei de as dar por dar. Não gastamos dinheiro e estamos na mesma com a família. Num baptizado só convido mesmo os próximos e por isso também não fico nada chateada se não for convidada nas mesmas circunstâncias.
    E num aparte, cortei também com as prendas inúteis para as crianças. Lentamente fui dando a entender que prefiro ser eu a escolher as prendas e agora simplesmente perguntam-me o que os miúdos querem ou precisam e eu distribuo os desejos pela família. Assim eles ficam felizes e não tenho a casa cheia de barbies. E até empurro para coisas fora do habitual nestas idades, como um concerto, cinema, etc.

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  18. Bom assunto para discussão! Eu vivo em um dilema. Ao mesmo tempo em que gosto de reuniões familiares, também me sinto cansada, exausta e não quero ter que ficar participando de tudo. A família do meu marido é muito grande e sempre estão fazendo eventos e festejos. São festas, casamentos, aniversários, principalmente infantis, batizados, bazares, reuniões, encontros religiosos, enfim, gostam muito de estarem juntos. Sempre participei muito mas atualmente eu me sinto cansada. A minha família é pequena e o número de encontros também não são muitos.
    Além disso, desde o ano passado mudei meus pensamentos e opiniões sobe várias coisas. Tenho conseguido dizer mais “não” a certas coisas e é libertador poder fazer isso. Simplesmente não estar com vontade de ir a determinado evento e não ir, sem se preocupar com o que vão dizer. Estou realmente muito cansada disso. Infelizmente tenho que trabalhar mais este tipo de coisa pois fico com “dor na consciência” depois.

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  19. Ola a todos,

    Vou dar o exemplo dos meus pais, eles resolveram o excesso de eventos "religiosos" (casamentos, batizados e afins) com uma solução de compromisso. Normalmente vão à cerimonia religiosa (supostamente o mais importante) e evitam ir à festa a seguir. Assim estão presentes num momento importante mas não desperdiçam muito tempo.

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  20. Olá.. eu posso dizer que actualmente o que faço é definir prioridades.. não posso ir a todas (que a razão seja por questões monetárias, de tempo ou de vontade..) e acabo por ter de decidir o que é mais importante, ir desta vez? descansar? e lá está dizer Não, desta vez não vou.. e custa, mas se a prioridade sou eu e se preciso descansar, lá terá de ser.. ou qqr dia sou eu que tenho um qqr esgotamento e mais nimguém.. ficou aqui a minha opinião.. de quem se preocupa em gerir um pouco melhor a sua vida (para ter momentos de descanso tb).

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  21. Eu sou introspectiva em uma família brasileira extrovertida que também adora festas e tal. No meu caso acho muito fácil dizer não e ficar na minha quando não estou afim, não sofro emocionalmente com isso. No meu caso tem a ver com a minha personalidade mesmo, já que fui criada em uma família muito festeira, comilona, alcoólatra e emotiva (faz drama com tudo).

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